
MARÇO, mês de grandes lutas e transformações na vida das mulheres das águas. Em 3 de março de 1975, as religiosas Doroteia lideradas por irmã Nilza Montenegro, a convite do Frei Alfredo, chegam à vila de Itapissuma, em Pernambuco, para iniciar um trabalho de pastoral junto aos homens e mulheres que extraiam das águas, dos mangues e da lama do Canal de Santa Cruz, o sustento de suas famílias.
Ao longo de seus 20 anos de trabalho em Itapissuma/PE, Ir. Nilza teve um impacto significativo na vida das mulheres pescadeiras* da região. Ela contribuiu com a formação e a organização dessas mulheres, ajudando-as a conquistar autoestima, autonomia, e a melhorar em suas condições de trabalho e de vida. Além disso, seu trabalho contribuiu para a valorização da atividade pesqueira feminina, fortalecendo a identidade e a cultura local. Com isso, muitas mulheres se empoderaram dos seus direitos, passaram a ter um registro de nascimento, foram batizadas na Igreja Católica, conquistaram uma carteira de identidade, se auto reconheceram como pessoas humanas, tomaram consciência de que elas tinham direitos e que o Estado brasileiro lhes devia isso, porém essa verdade ou conquista só veio com muita luta...
A luta das mulheres "pescadeiras" de Itapissuma ao longo de 20 anos trouxe mudanças significativas para a história das mulheres na pesca. Antes, elas enfrentavam muitas restrições, como a proibição de ter Registro Geral de Pesca (RGP) e a exclusão de associações e até mesmo a proibição de entrar na sede das colônias de pesca. Além disso, a presença delas em embarcações ou até mesmo ao redor das redes de pesca era vista como um tabu que afetava a atividade dos homens. Hoje, no entanto, a situação é diferente, e as mulheres conquistaram seu espaço e reconhecimento nesse setor. Isso foi muito importante para o avanço na relação de gênero e para a valorização do trabalho da mulheres na pesca.!
O fortalecimento das mulheres em Itapissuma e de outros municípios, o reconhecimento do trabalho das pescadoras com o acesso ao RGP, são frutos de uma luta histórica que começou em 1975. Essas mulheres, junto com a Irmã Nilza, enfrentaram grandes desafios durante o regime militar para garantir seus direitos como trabalhadoras e chefes de família em uma sociedade patriarcal. O esforço delas foi fundamental para que hoje possamos celebrar essas conquistas e valorizar o papel essencial que desempenham na sociedade. É uma história de coragem e perseverança que merece ser lembrada e celebrada!
Março é um mês muito significativo para as mulheres das águas, pois vai além da celebração do Dia Internacional da Mulher em 8 de março. É um momento de reconhecimento do trabalho das mulheres pescadeiras, que desempenham um papel fundamental em suas comunidades. Além disso, a partida da irmã Nilza, que ocorreu no Dia das Águas, em 22 de março, traz uma carga emocional e simbólica ainda maior para este mês. É um tempo de reflexão sobre a importância dessas mulheres e suas contribuições para a preservação e valorização dos recursos hídricos.
É com grande respeito e admiração que homenageamos a Irmã Nilza Montenegro, uma verdadeira pioneira no trabalho com mulheres pescadoras no Brasil. Sua dedicação e compromisso em empoderar essas mulheres e reconhecer seu papel fundamental na comunidade pesqueira foram inspiradores. Irmã Nilza não apenas abriu portas, mas também transformou vidas, promovendo a dignidade e a valorização do trabalho feminino. Sua partida em 22 de março de 2020 deixou um legado que continuará a inspirar gerações. Que sua memória e suas contribuições sejam sempre lembradas e celebradas!
*As mulheres pescadoras de Itapissuma (PE) se autodenominavam “pescadeiras”