Por Neusa Francisca Nascimento - Irmãs da Divina Providência -CPP
No rio e no mar, pescadoras na luta!
Nos açudes e barragens, pescando liberdade!
Hidro negócio, resistir!
Cerca nas águas, derrubar!
São Francisco Vivo: terra, água, rio e povo!
Eis o grito que ecoou diversas vezes durante o 1º encontro das mulheres pescadoras no Norte de Minas, realizado entre os dias 03 a 05 de Maio, na comunidade da Barra do Guaicuí (município de Várzea da Palma/MG). O Encontro, promovido pelo Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) e pelo Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPP), contou com mais de 50 pescadoras vindas dos municípios de Manga, Matias Cardoso, Itacarambi, Pedras de Maria da Cruz, São Francisco, São Romão, Buritizeiro, Ibiaí, Barra do Guaicuí, Pirapora, representante da coordenação nacional do CPP (Olinda/PE), do movimento Graal no Brasil (Belo Horizonte/MG) e Articulação Nacional das Mulheres Pescadoras(Remanso/BA).
O Encontro ocorreu no contexto das lutas do MPP, que busca se solidificar em Minas Gerais e que está liderando, com o apoio do CPP, a Campanha pela Regularização do Território das comunidades Tradicionais Pesqueiras no Brasil.
Desde 2010, o diagnóstico da pesca artesanal, realizado pelas Irmãs da Divina Providência/IDP, que prestam serviço de apoio à implantação do CPP na região, apontou a invisibilidade das mulheres no mundo da pesca. A reflexão deste dado, junto com outros parceiros, levou ao cuidado em trabalhar com as pescadoras, ajudando-as a se auto-afirmarem mais, publicamente, o que possibilitou a realização do encontro, em conjunto com algumas pescadoras das comunidades.
Durante o encontro, as pescadoras refletiram sobre: Nosso corpo de mulher da menarca a menopausa, relações de gênero e os direitos das pescadoras, incluindo o direito ao território pesqueiro, na perspectiva da Campanha nacional pela regularização dos territórios das comunidades pesqueiras.
As reflexões culminaram com um mutirão de coleta de assinaturas em prol da referida campanha, a qual, tratando-se de uma lei de iniciativa popular, implica em recolher assinaturas de 1% do eleitorado brasileiro para que a proposta de lei seja apresentada ao congresso nacional. As mulheres do encontro exerceram este serviço indo pelas ruas e casas da comunidade anfitriã.
Tais discussões também deram vida ao grito do MPP, e ao grito da Articulação popular do rio São Francisco, como descrito acima. Foram como clamores de esperança, indignação e de apropriação do assunto que foi suscitando uma energia nova no ser e nas lutas daquelas mulheres que pareciam descobrir outra dimensão em suas vidas de mulher, e, assim, se auto-afirmando, como cantaram na mística inicial: “Sou mulher, sou barranqueira, pescadora, vazanteira. Subo rio e desço rio, enfrentando o desafio de viver nestas barrancas, convivendo com o meu rio!” Ainda recitando: “... daqui partiremos de cabeças erguidas, em defesa da pesca artesanal e seguiremos fazendo a nossa história!”.
Ao final do encontro, as pescadoras, dentre outras coisas, comemoraram: as mais de 200 assinaturas conseguidas em menos de duas horas de trabalho; a decisão de se integrarem a Articulação nacional das pescadoras, sendo eleitas três delas para as representarem na coordenação nacional; o maior conhecimento sobre seus direitos previdenciários e trabalhistas; a sintonia que passaram a ter com o MPP, do qual poucas tinham informações concisas, uma vez que, em geral, são os esposos que participam; a ciranda, onde as crianças foram cuidadas
por dois pais pescadores, uma avó e algumas adolescentes da comunidade local.