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As manchas de petróleo no litoral brasileiro e o silenciamento de pescadores e pescadoras artesanais

Estudo lançado pelo Intervozes aponta para o silenciamento dos veículos de comunicação sobre o impacto do petróleo na vida de pescadores e marisqueiras

09-06-2020

Estudo lançado pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, no dia 5 de junho, aponta para o silenciamento das vozes de pescadores e pescadoras artesanais nos veículos de comunicação, durante o período de derramamento do petróleo cru no litoral brasileiro. Intitulada “Vozes Silenciadas: a cobertura do vazamento de petróleo no litoral”, a pesquisa mostra que, além do atraso de quase um mês na divulgação dos fatos pela mídia, seja nos veículos de alcance nacional ou nos de alcance regional, em média 60% das vozes ouvidas foram de autoridades públicas e apenas 5% aproximadamente representavam os povos e comunidades tradicionais diretamente afetados.

A pesquisa investigou a cobertura de sete veículos de comunicação impressa, três jornais televisivos e uma mídia pública, são eles: O Globo (RJ), Folha de S. Paulo (SP), O Estado de S. Paulo (SP), A Tarde (BA), Jornal do Commercio (PE), O Estado do Maranhão (MA), Diário do Nordeste (CE), Jornal Nacional, SBT Brasil, Jornal da Record e Agência Brasil. A análise qualitativa se ateve aos materiais jornalísticos não opinativos. Desses, 241 estavam nos veículos impressos, 57 nos telejornais e 52 no webjornalismo da Agência Brasil, totalizando 350 conteúdos analisados.

Pescadoras e Marisqueiras são silenciadas

Entre os aspectos mais relevantes da pesquisa está justamente a invisibilidade conferida a pescadores/as e marisqueiras/os. Verifica-se, por exemplo, que a referência ou nomeação de “pescadores/as” e “marisqueiras” é quase apagada dos títulos dos jornais impressos estudados. Dos 16 títulos de O Globo, não há sequer uma menção às palavras “pescadores”, “pescadoras”, “marisqueiros” ou “marisqueiras”. Já na Folha de S. Paulo, dos 55 títulos listados, os termos aparecem em apenas três. O Estado de S. Paulo abordou o vazamento do petróleo em 31 títulos, mas somente em um referenciou as categorias dos trabalhadores/as atingidos/as. 

Os veículos regionais pesquisados, que, em tese, estavam mais próximos da realidade vivenciada por pescadores/as e marisqueiras/os, não se comportaram de forma diferente. No jornal Diário do Nordeste, do Ceará, entre os seus 18 títulos, nenhum referenciou diretamente as categorias que sobrevivem das atividades pesqueiras. Dos 46 títulos do Jornal do Commercio (PE), também há apagamento total delas, mesmo quando são referenciadas indiretamente. O periódico regional que mais utilizou as palavras “pescadores” ou “marisqueiras” foi o jornal A Tarde, que, nos seus 54 títulos, fez cinco citações diretas.

“A imprensa se pautou por uma lógica conservacionista de suposta preocupação com o ambiente como se as pessoas não fossem parte dele. De forma perversa, invisibilizou os sujeitos e sujeitas que dependem dos territórios impactados. A invisibilidade imposta às pescadoras e pescadores é o ponto central da questão, digo ponto central, visto que para o capital se afirmar é preciso negar o modo de vida tradicional, as mulheres e homens das águas que historicamente teve sua humanidade negada, seu modo de vida desqualificado e seguem sendo usurpados até do direito de falar”, afirma Elionice Sacramento, liderança quilombola, integrante do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) e da Articulação Nacional de Pescadoras (ANP) e uma das colaboradoras da pesquisa. 

Para acessar o estudo, clique aqui!

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