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“Ou reagimos ou vamos ficar submissos a esse modelo capitalista”

Pescadora do MPP, Josana Serrão, participa da 7ª Conferência da Via Campesina e aponta a perda de território como um dos principais problemas enfrentados pelos campesinos e povos tradicionais de todo o mundo.

31-07-2017
Fonte: 

Assessoria de Comunicação do CPP

 
A pescadora artesanal e coordenadora nacional do Movimento dos Pescadores e Pescadoras artesanais (MPP), Josana Serrão, participou da 7ª Conferência Internacional da Via Campesina, entre os dias 19 e 24 de julho, na cidade de Derio, no País Basco, Província Autônoma no norte da Espanha. O encontro reuniu cerca de 450 movimentos camponeses de diversas partes do mundo. Encontro da Via Campesina no País Basco
 
O objetivo da atividade foi dar continuidade à luta contra o capitalismo e formular medidas concretas para edificar uma realidade alternativa pautada na soberania alimentar. A conferência ocorre a cada quatro anos e é o espaço mais importante na tomada das deliberações da Via Campesina. No encontro encerrado na segunda-feira (24/07), Josana teve a oportunidade de participar dos principais debates que têm preocupado populações campesinas e tradicionais em todo o mundo.
 
Na opinião de Josana, um dos pontos de discussão mais importantes durante esses dias foi a questão do território. “Desde a Assembleia da juventude, das mulheres e agora na Conferência da Via Campesina está aparecendo muito essa situação da perda de território e da perda de identidade. Tudo movido por um único motivo: o capitalismo. A violação de direito, nunca é trazida à toa”, constata Josana. A perda dos territórios tradicionais dos pescadores, um dos assuntos mais importantes na pauta do MPP, também foi constatada pela pescadora como uma situação que tem impactado pescadores e pescadoras artesanais em todo o mundo.
 
“É aquela ideia de que se a gente não faz algo, se a gente não ocupa, alguém vem e ocupa o nosso lugar. Então, ou reagimos ou vamos ficar submissos a esse modelo capitalista que chega e vai tomando tudo”, constata.
 
A 7ª Conferência Internacional foi antecedida pela 4ª Assembleia Internacional de Jovens, que aconteceu entre os dias 16 e 17 de julho, e pela 5ª Assembleia Internacional de Mulheres, nos dias 17 e 18 de julho, espaços em que os jovens e as mulheres camponesas do movimento socializaram seus desafios e suas propostas nesta luta. Josana participou das duas atividades antes do início da conferência.
 
Josana no encontro da Via Campesina“O que todos países apresentam com muita força é a violência contra as mulheres. Muitas mulheres são assassinadas, muitas mulheres sofrem agressões de todos os tipos mais grosseiros que se possa imaginar”, relata Josana. A pescadora ainda lembra que muitas dessas violências são geradas pela perda do território. “Aí tem a questão do homicídio também por conta da perda do território. Além disso, muitos trabalhadores rurais, muitos campesinos e pescadores acabam cometendo suicídio por não se conformarem com esse modelo capitalista que expulsa e traz todo tipo de violação aos nossos territórios”.
 
A Conferência da Juventude também trouxe outra questão importante para os movimentos campesinos de todo o mundo: a formação de novos quadros. “Algo que tem chamado a atenção e que é algo que precisamos discutir muito no movimento também é a formação de jovens militantes. Todos os movimentos aqui presentes colocam a preocupação de como nós vamos nos preparar para a luta futura se a maioria dos militantes, que são os principais articuladores, são assassinados todos os dias? A gente tem vivenciado isso muito forte no nosso país”.
 
Para Josana, o encontro reforça um debate que já é forte dentro do MPP, o da importância de se contrapor à lógica dominante. “Para nós, do movimento, segue aquela discussão que sempre fazemos, de que é preciso que nós reajamos e nos contraponhamos a esse modelo de capital e de morte para nós. Porque para nós, esse modelo do capital tem sido o extermínio das comunidades tradicionais, incluindo, nós, pescadores”.
 
Do encontro ficou a lição da importância de fazer a luta conjunta. “Pra nós, do MPP, isso está sendo muito importante, porque eu vou ter como partilhar com os demais companheiros militantes e não militantes, que o MPP se fortaleceu mais e de que devemos ser solidários com os demais companheiros. Devemos ser solidários com todas as lutas em defesa da vida e em defesa do território”, finaliza Josana.
Linha de ação: