Faleceu na madrugada de hoje (6), por complicações do Covid-19, a quilombola Fátima Barros. Fátima morava no Quilombo Ilha São Vicente, localizado na região do Bico do Papagaio no município de Araguatins, em Tocantins e era uma importante liderança da luta pelos direitos territoriais e ancestrais das comunidades tradicionais quilombolas.
Nona filha de uma família de dez irmãos, seu pai era lavrador e sua mãe exerceu a profissão de quebradeira de coco e lavradora. Formada em pedagogia pela Universidade Federal do Goiás, Fátima também esteve à frente de processos de formação e mobilização para as lutas do seu povo. A sua principal referência em escola de militância quilombola por território, revelada em texto que assinou na revista Marie Claire, foi o MOQUIBOM, Movimento Quilombola do Maranhão, que unifica cerca de 180 territórios quilombolas em luta.
Fátima ainda esteve à frente de lutas conjuntas articuladas entre as comunidades quilombolas na Articulação Nacional Quilombola (ANQ) e em articulações mais amplas com a participação de outras comunidades tradicionais, como populações indígenas, pesqueiras, geraizeiras, vazanteiras, entre outras, congregadas na Articulação Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais.
“Nós vamos seguir lutando pelos nossos territórios, porque é assim que estamos protegendo também o Brasil. Somos guardiões desses espaços, desses territórios. Estamos aqui e sempre vamos denunciar, e o mundo vai ter que ouvir sim a voz dos marginalizados. Não nos calaremos”, declarou Fátima em evento de denúncia contra a violência no campo, realizado em 2017, no Memorial do Ministério Público Federal, em Brasília.
Nós do CPP, por conhecermos tão bem a força, a integridade e a paixão que movia Fátima e a sua luta, estamos abalados e tristes por mais uma morte ocasionada pelo Covid-19, doença que no nosso país já matou mais 330 mil pessoas, impulsionada pela negligente política sanitária do governo federal, que transformou a pandemia em arma de assassinato em massa.
Também nos solidarizamos aos seus familiares e aos lutadores das causas quilombolas, que nesse momento, perdem a inspiração e a coragem que Fátima representava.
Mas a fé no Deus Vivo, que ressuscitou nesse Domingo de Páscoa, nos faz manter a esperança de que Fátima é semente, e a coragem e força que plantou durante toda a sua vida, germinará frutos de abundância e fortalecerá o time da ancestralidade guardiã que zela pelo seu povo e pelas causas justas.
Axé! Amém!