Trocas de experiências e aprendizados fortalecem a luta conjunta das mulheres das águas
Assessoria de Comunicação do CPP com informações do CPP Regional NE 2 | Fotos: Jéssica Raphaela
Cerca de 40 mulheres pescadoras dos municípios de Ipojuca e de Tamandaré, em Pernambuco, tiveram a oportunidade de trocarem experiências e saberes sobre a realidade da pesca artesanal e sobre as dificuldades de acesso ao território pesqueiro, no dia 31 de outubro. O intercâmbio aconteceu em Tamandaré e incentivou a troca das vivências que acontecem nos territórios, além de ter colaborado para a formação sobre a importância do processo de automonitoramento da produção de pescado.
O intercâmbio é resultante das ações do “Projeto Associação Mangue Mulher: fortalecendo a representação do trabalho feminino e a sustentabilidade da pesca artesanal”, uma parceria entre a Associação das Pescadoras de Maracaípe e o Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) do regional Nordeste 2, financiado pelo edital “De Mãos Dadas criamos Correntezas”, organizado pelo Fórum Suape.
“O objetivo é fortalecer as ações em defesa dos direitos sociais e do território tradicional pesqueiro. Foi também um momento de refletir a importância das mulheres fazerem o automonitoramento da produção de pescado”, explicou a agente de pastoral do CPP NE2, Laurineide Santana, que esteve com as pescadoras na ocasião. Ela também avalia que a troca ajudou as pescadoras a perceberem que compartilham de uma mesma realidade. “Foi um momento de muita riqueza quando elas conhecem o território da outra e percebem que as lutas são iguais. Mas também foi um espaço de animação”, explica.
Na ocasião do Intercâmbio, as pescadoras de Maracaípe tiveram a oportunidade de conhecer o Centro de Pesquisa da Biodiversidade Marinha do Nordeste, onde participaram de uma roda de conversa com servidores e bolsistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que realizam o projeto MONITORA. No diálogo coletivo foi explicada a importância do automonitoramento pesqueiro para o controle de produção, para o conhecimento da economia das pescadoras, para a visibilidade da produção pesqueira feminina e para ações de controle ambiental. Após esse momento, as pescadoras de Maracaípe foram recebidas pelas pescadoras de Tamandaré na praia de Carneiros, um dos principais locais de pesca das mulheres na região.
Para a pescadora da comunidade de Maracaípe, em Ipojuca (PE), Helena Ivalda, o intercâmbio “Foi maravilhoso, foi incrível!”. O aprendizado sobre automonitoramento e a pescaria conjunta marcaram a pescadora. “Os principais aprendizados que a gente teve e que a gente gostou muito foi o monitoramento que a gente vai fazer, com a hora que a gente vai sair para pescar, o que vai pescar, o local que vai pescar. E quando voltar, depois que catar o crustáceo, colocar no mesmo lugar o horário que a gente voltou da pesca e quantos quilos pegou”, explica animada a pescadora.
Ela acredita que o novo aprendizado mudará a realidade das mulheres de Maracaípe. “Então, isso vai ser incrível, né? É através do automonitoramento que vamos saber o que a gente pescou, quantas vezes a gente pode pescar naquele lugar. Assim a gente vai saber o que a gente vai conseguir de pesca naquele lugar, saber quantas vezes a gente pescou por ali por mês e quantos quilos a gente tirou. Vai ser bom esse automonitoramento. Vai ser incrível!”, comemorou Helena!
A atividade não encantou apenas as pescadoras de Maracaípe, mas também as mulheres de Tamandaré (PE), que receberam a delegação para conhecerem a sua realidade. “O intercâmbio das meninas de Maracaípe, foi maravilhoso aqui em Tamandaré. A gente aprendeu um pouco com as de lá e as de lá aprenderam um pouco com as daqui, foi maravilhoso. Todo mundo amou”, relatou a pescadora e presidente na Colônia de Pescadores Z-5, Madalena Santos.
A experiência da pesca conjunta encantou as pescadoras, que tiveram a oportunidade de compartilharem também algumas das dificuldades enfrentadas nos territórios. “As meninas ficaram assim surpresas, percebemos que elas têm mais dificuldade lá no acesso ao mar que a gente. A gente pensou que só era a gente que tinha”, relatou Madalena. Após o sucesso do intercâmbio, o desejo agora é repetir a experiência. “Para mim e para as meninas, o principal foi a gente pegar o marisco junto, saber que elas pegam marisco que nem a gente pega. Todo mundo amou e as daqui (Tamandaré) querem fazer o contrário agora, querem visitar as pescadoras de lá (Maracaípe)”, animou-se.
Sobre o Projeto
O intercâmbio foi a última ação realizada pelo projeto “Associação Mangue Mulher: fortalecendo a representação do trabalho feminino e a sustentabilidade da pesca artesanal”, que teve como objetivo constituir legalmente a Associação de Pescadoras Artesanais Mangue Mulher de Maracaípe. Entre as ações realizadas estão a inserção dos cadastros das profissionais no atual sistema de Registro Geral da Pesca (RGP), plataforma do Governo Federal que permite o acesso a políticas públicas e assegura direitos enquanto trabalhadoras da pesca artesanal. Outra atividade realizada foi a articulação de parcerias com o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) para que fossem realizados os cadastros das associadas no Cadastro da Agricultura Familiar (CAF).
“O projeto contribuiu para o protagonismo dos movimentos populares na defesa de seus interesses a partir de atividades de incidência em defesa do território pesqueiro e da realização de momentos formativos de lideranças e associadas em assuntos relevantes para constituição enquanto Associação, como meio ambiente e mudanças climáticas, direitos de povos e comunidades tradicionais, monitoramento pesqueiro, cadastros técnicos, noções básicas de economia solidária e trabalho em saúde feminina”, relata a assessora jurídica do CPP NE 2, Patrícia Guedes.
A atividade final, com o intercâmbio, também trouxe importantes aprendizados, na opinião de Patrícia. “Foi um momento de muita riqueza quando elas conhecem o território da outra e percebem que as lutas se entrelaçam, percebendo assim a importância das trocas e principalmente da união para os enfretamentos necessários”, finalizou.