Encontro em Salvador (BA) reúne atingidos pela mineração e Igreja, incluindo o CPP, em defesa dos territórios que denunciam diversas violações e reafirmam estratégias de enfrentamento
Por Cláudia Pereira | Cepast-CNBB
Um encontro que proporcionou momentos de escuta e partilha entre os povos atingidos pela mineração dos estados da Bahia e Sergipe e resultou na articulação de uma frente de resistência, expressa em carta que denunciam violações com anuência do Estado e reafirmam estratégias para enfrentamento. Em Salvador (BA), nos dias 29 e 30 de março, foi realizado o primeiro encontro dos atingidos pela mineração da Bahia e Sergipe, promovido pela Rede Igrejas em Mineração e pela Comissão Episcopal de Ecologia Integral e Mineração (CEEM-CNBB), articulados no Núcleo Igreja e Mineração do Regional Nordeste 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em cooperação com pastorais sociais e movimentos populares. O encontro teve como objetivo apresentar experiências sobre os impactos da mineração, reforçar a defesa dos territórios, comunidades, água e ecologia, e convocar a igreja a apoiar os atingidos na proteção da “casa comum”.
Segundo o “Atlas Igrejas em cuidado da casa comum”, a Bahia é o terceiro estado no país com o maior número de conflitos provocados pela mineração (94), gerando impactos nas águas, na terra, na saúde e sobretudo no modo de vida dos povos e nas condições de trabalho para quem depende do bioma para o sustento.
Dom Vicente de Paula Ferreira, bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da Comissão Episcopal para Ecologia Integral e Mineração (CEEM-CNBB), ressaltou que o encontro foi uma oportunidade para escutar as diversas experiências dos impactos e feridas causadas pelos empreendimentos de mineração na região.
“Escutamos e reforçamos a defesa pelos territórios, pelas comunidades, pela água e ecologia e tudo aquilo que nossas lideranças trouxeram como alternativa de cuidado da vida e da nossa ‘casa comum’ e convocamos a toda a nossa igreja para continuar reforçando essa opção ao lado dos nossos atingidos como guardiães que somos a nossa casa comum”, afirmou dom Vicente.
Em carta os participantes do encontro expõem relatos dos diversos casos de destruição socioambiental, violação de direitos sofridos pelas populações dos territórios, causados pela atividade mineração de grandes empresas apoiadas pelo Estado. O documento compartilha as ações que as organização e comunidades tem realizado e reflexões sobre os desafios para enfrentar o atual modelo de mineração.
O encontro evidenciou que o modelo de mineração é racista e colonial, tendo como alvo territórios habitados por populações majoritariamente não-brancas, transformados em zonas de sacrifício. A partilha sobre os principais problemas socioambientais revelou um quadro alarmante de violações, incluindo a contaminação de água, ar e solo, grilagem de terras, desmatamento, violência contra as famílias, especialmente os povos tradicionais. Os participantes denunciaram a falta de consultas prévias, livres e informadas às comunidades, conforme a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e o uso da violência policial contra as manifestações populares. O acordo entre empresas e governo estimula a apropriação das riquezas minerais para exportação, sem beneficiar a população local, e gera lucros exorbitantes para as empresas.
O modelo de mineração implementado na Bahia e em Sergipe, com amplo apoio do Estado, tem provocado o aumento do abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, o empobrecimento, a marginalização e o adoecimento das comunidades tradicionais.
Diante desse cenário, as lideranças comunitárias, pastorais sociais e movimentos populares presentes no encontro publicaram carta documento que, além de denunciar as violações, se compromete a intensificar a ação conjunta e construir processos de formação em defesa da “casa comum”, dialogar com setores que comungam em defesa da agroecologia, o acesso à terra, à água e o bem viver dos povos e da natureza.