Inicia a articulação das forças eclesiais que apoiam as comunidades atingidas ou ameaçadas pela mineração em franca expansão no estado da Bahia
por Ruben Siqueira – CPT Bahia
A primeira reunião da rede Igreja e Mineração na Bahia ocorreu no dia 02 de maio de 2024, mediante plataforma digital. É o início da tão esperada articulação das forças eclesiais que apoiam as comunidades atingidas ou ameaçadas pela mineração em franca expansão no estado. O propósito é envolver e articular dioceses e pastorais, também do estado de Sergipe, configurando-se assim a rede no regional Nordeste 3, conforme a estrutura da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Coordenada por dom Vicente Ferreira, bispo da diocese de Livramento de Nossa Senhora–BA e presidente da Comissão Especial para Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEEM-CNBB), a reunião contou com representantes da Cáritas, do Conselho Indigenista Missionário(CIMI), do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Depois de uma introdução sobre a missão, os objetivos e a trajetória da rede ao nível latino-americano, trazido por Ruben Siqueira, da CPT, os participantes fizeram um relato e um balanço de suas percepções e atuações junto a comunidades que sofrem os impactos da mineração nas várias regiões do estado.
A Bahia, que tem a maior diversidade mineral do país, em seu grande e diverso território, de longa tradição garimpeira na Chapada Diamantina, agora sofre com a expansão minerária na Serra Geral que corta o estado do Sudoeste ao Norte, a cata do ferro de baixo teor e outros minérios, inclusive os considerados estratégicos, como urânio, lítio e terras raras, entre outros. Esta expansão vem se somar à das energias renováveis – eólica, solar e hidrogênio verde, que junto às monoculturas do agronegócio de exportação querem nos convencer de que farão a transição energética suficiente para enfrentar a crise climática e retardar o fim.
As situações mais comuns relatadas pelos participantes dizem respeito ao modo autoritário e enganoso com que as empresas minerárias, maioria estrangeiras, chegam nos territórios das comunidades e iniciam seus empreendimentos, com total apoio do Estado, dos níveis federal ao municipal; aproveitam-se da situação fundiária precária destes territórios, sem suficiente demarcação e titulação; prometem emprego e renda, mas o que trazem mesmo é poluição sonora e do ar e das águas, rachaduras nas casas com as detonações, comprometimento das estradas, queda da produção agrícola, danos graves à saúde, emigração, etc.
As comunidades resistem como podem, com apoio de alguns sindicatos, associações, ONGs e Igrejas. Sem desistir de apelar às instâncias estatais, insistem nas manifestações públicas, bloqueios de estradas e esforços de comunicação, na imprensa e nas redes sociais. Constata-se que têm sido mais eficientes as denúncias em cortes internacionais do que nas nacionais.
As atuações das dioceses e pastorais sociais junto a estas comunidades já são importantes, mas carecem ser fortalecidas e ampliadas para outras regiões, com sólido embasamento nas espiritualidades, em parceria com as organizações e movimentos populares. Repetindo Graciliano Ramos, diz o p. Dário Bossi, no importante artigo sobre o diálogo dos mais de 20 bispos durante a recente 61ª assembleia da CNBB, em Aparecida–SP: “comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem compaixão”[1]. Este o espírito que anima a rede, também na Bahia, seguindo o caminho de Jesus, o compassivo.
Fonte: cepastcnbb.org.br