Assessoria de Comunicação do CPP | Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
A Campanha Mar de Luta lança hoje (04/05), uma Carta de Repúdio ao encerramento da CPI do Óleo. A CPI encerrada sem ter chegado ao relatório final de investigação, "abre brecha para que novos desastres aconteçam, encontrando as comunidades vulnerabilizadas e o Estado despreparado para o seu enfrentamento", diz a carta.
No documento lançado pela Campanha Mar de Luta, também é cobrado que a CPI seja reaberta e os trabalhos retomados.
Confiram a Carta na íntegra!
Carta de Repúdio pelo Encerramento da CPI do Óleo
Nós, dos movimentos organizados de pescadores e pescadoras artesanais, de movimentos ambientalistas e de organizações de luta por Direitos Humanos, reunidos na Campanha Mar de Luta, vimos, por meio desta Carta, manifestarmos a nossa preocupação e repúdio ao encerramento da Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) do Óleo, sem a sua devida conclusão, ocorrida nesse mês de abril.
Os impactos do derramamento do Petróleo, que aconteceu em todo o litoral do nordeste e em parte do litoral do sudeste do país em 2019, nunca foram devidamente dimensionados. Conhecido como o maior crime ambiental já ocorrido no Brasil e o maior derramamento de petróleo da história do Atlântico Sul, a contaminação da costa brasileira que atingiu 130 municípios brasileiros, em 11 Estados, do Pará ao Rio de Janeiro, impactando mais de mil localidades, incluindo mais de 50 Unidades de Conservação, segue sem respostas.
Após a realização de 15 reuniões e audiências públicas na Câmara, a CPI teve as suas atividades suspensas em conjunto com outras comissões, em março de 2020, devido à pandemia. Em março de 2021, deputados/as que compõem a CPI do Óleo fizeram requerimento para prorrogação do prazo de funcionamento da mesma, e, em abril deste ano, veio o ato derradeiro: no momento em que a prorrogação seria apreciada em Plenário, o deputado líder do Governo, Ricardo Barros (PP - Paraná), apresentou requerimento solicitando a retirada do pedido de prorrogação da pauta, sob alegação de perda do prazo regimental. Assim, a CPI do Óleo foi encerrada numa explícita manobra dos/as deputados/as da base governista.
Iniciada em novembro de 2019, a CPI do Óleo tratava de assunto de extrema relevância ambiental, social e econômica, e de interesse de toda a sociedade brasileira, constituindo-se um direito insuprimível dos/as cidadãos e cidadãs deste país, o conhecimento da verdade e o esclarecimento dos fatos que levaram ao derramamento que tanto prejudicou o meio ambiente e os interesses da coletividade. Para as comunidades tradicionais pesqueiras a CPI representava uma das poucas esperanças em um procedimento investigativo adequado para o caso, investigação esta que apontasse medidas preventivas para situações semelhantes, e que apresentasse respostas sobre o caos que impactou severamente a vida das comunidades tradicionais pesqueiras e que foi intensificado com o início da pandemia do Coronavírus, em 2020.
A finalidade da Comissão era investigar as origens das manchas de óleo que se espalharam pelo litoral do Nordeste, bem como avaliar as medidas que foram tomadas pelos órgãos competentes, apurar responsabilidades pelo vazamento e propor ações que mitigassem ou cessassem os atuais danos e a ocorrência de novos acidentes. O encerramento precoce da Comissão não permitiu que os objetivos fossem atingidos e as perguntas motivadoras parecem estar longe de serem respondidas pelo Congresso e pelo executivo, que desde o primeiro momento, ignorou a dimensão da crise e os seus impactos.
Boa parte dos pescadores teve a venda do seu pescado prejudicada. Em 9 estados nordestinos, 40,4% dos pescadores artesanais entrevistados pela pesquisa realizada pela Fundação Joaquim Nabuco, no começo de 2020, relataram que estuários e/ou manguezais próximos foram atingidos, 67,5% relataram queda de renda por conta do petróleo nas praias. A redução da renda média entre os pescadores foi de 37,8%.
O silenciamento sobre as dimensões e impactos dessa crise parece repetir o que aconteceu no auge do derramamento, no ano de 2019, quando houve um atraso de quase um mês na divulgação do crime pelos veículos de comunicação, como demonstrado pela pesquisa Vozes Silenciadas, realizada pelo Intervozes. Os pescadores e pescadoras artesanais também continuam sendo ignorados e os impactos no meio ambiente e na saúde dessas comunidades continuam desconhecidos. Essa postura abre brecha para que novos desastres aconteçam, encontrando as comunidades vulnerabilizadas e o Estado despreparado para o seu enfrentamento.