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Análise de conjuntura reflete sobre os impactos do óleo e da política econômica do governo na pesca artesanal

No segundo dia do Grito da Pesca 2019, pescadores e pescadoras dialogam sobre suas vidas.

21-11-2019
Fonte: 

Lorenza Strano, assessora de comunicação da Cáritas de Crateús.

Frente ao desastre do óleo no litoral do nordeste e outras regiões que já estão contaminadas, a difícil conjuntura atual que afeta a classe trabalhadora e a categoria da pesca, após a Audiência Pública na Câmara dos Deputados, militantes do MPP se reuniram para uma análise do momento que o Brasil está vivendo.

“Temos um milhão de pescadores e pescadoras no nosso país e mais de 400 mil vivem no Nordeste, são trabalhadores e trabalhadoras que tem uma relação muito forte com a natureza, com o território, com a tradição e são responsáveis pela movimentação econômica de vários municípios”, argumentou o professor Cristiano Ramalho, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apresentando dados da Estatística Pesqueira de 2007. “Depois do derramamento do óleo estão sofrendo uma grave crise, a queda da venda do pescado é, no mínimo, de 80%”.

As consequências e os impactos desse crime ambiental, segundo o professor, são terríveis para os homens, mas devastadores para as mulheres, porque a maioria dos produtos capturados por elas, como os mariscos, absorvem mais o óleo. E com as pescadoras sofrem, também, as comunidades inteiras, porque a pesca não é só uma atividade econômica, ela é uma forma de ser, de viver e se o território é condenado a sofrer, a atividade da pesca artesanal é prejudicada e, consequentemente, a identidade, a autonomia e a soberania dos povos das águas”.

“A garantia da segurança alimentar está sendo atacada pelos grandes empresários e os comerciantes que estão difundindo a ideia que os produtos da pesca artesanal estão contaminados, seguem o plano perverso de suspender a pesca e bloquear a continuidade histórica das comunidades pesqueiras”, afirmou o Professor da UFPE.

Na mesma linha de alarme, o dirigente nacional do MST, Alexandre Conceição, expressou a solidariedade do povo da terra o qual, segundo ele, é complementário ao mundo da água e que, nesse momento, quer fortalecer a parceria e a união para limitar os avanços do capitalismo.

“Fazer análise de conjuntura é como fazer uma rede de pesca, vamos colocar um pedaço após o outro, e assim vamos entender que o que acontece está dentro da crise da América Latina onde o povo está lutando para resistir e subverter a ordem dada pelo capital”, declarou o dirigente.

A reflexão de Alexandre trouxe vários elementos que caracterizam o governo Bolsonaro e que estão preocupando, sobretudo, pela ‘desproteção’ do meio ambiente, cujo cuidado é fundamental para quem trabalha com água e terra. Os exemplos são a reforma da previdência, o Programa Verde-Amarelo do governo Bolsonaro, que intenciona isentar milhões de reais para os empresários, em troca da contratação de jovens entre 18 e 29 anos. O valor da isenção, no entanto, seria pago pelos desempregados que estivessem recebendo o seguro desemprego e passariam a contribuir com o INSS, o que hoje não acontece. Além disso, Conceição criticou também a venda dos territórios dos povos tradicionais para investidores estrangeiros.

Os três acidentes ambientais, os mais desastrosos dos últimos anos, Brumadinho, as queimadas na Amazônia e o derramamento de óleo no litoral foram apontados como episódios que marcam um caminho perigoso que leva às mudanças climáticas e à destruição das tradições a favor dos grandes projetos e das grandes empresas.

Segundo a Coordenadora Nacional do MPP, Josana Pinto, que também compôs a mesa de análise, esses projetos são projetos de morte, como a mineração e a construção das barragens, e tem como único objetivo expulsar pescadores e pescadoras dos territórios ancestrais, prejudicando a sustentabilidade, a sobrevivência e a tradição.

“É hora da gente se mobilizar contra tudo isso, estamos em luta mas precisamos fazer mais, não podemos deixar espaço ao conformismo, estamos perdendo território, é momento de libertação e de sonhar juntos um sonho coletivo, de massa, de toda a sociedade”, concluiu Josana.

Após a análise de conjuntura, vários representantes dos estados presentes fizeram o uso da fala trazendo histórias e vivências até do interior do Ceará. “Tem um povo que ficou muito invisível, o mais invisível de todos e que sofre muito também a causa das mineradoras, é o povo dos açudes do sertão. Eles e elas também estão aqui presente na luta para se somar a vocês e com a união superar esse momento difícil”, afirmou Marciel Melo, da Cáritas Diocesana de Crateús, que desenvolve um projeto de resgate da comunidade pesqueira dos açudes, junto ao CPP no semiárido brasileiro.

Linha de ação: 

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