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Pescadores da região amazônica debatem conflitos socioambientais e denunciam a violência e a fome no X FOSPA

02-08-2022
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 Por Cláudia Pereira (Assessoria de Comunicação da Articulação das Pastorais do Campo) | Fotos: Cláudia Pereira

No terceiro dia do X Fórum Social Panamazônico (Fospa), no prédio Mirante do Rio Guamá, denominado especialmente para o fórum por Casa da Mãe Terra, pescadoras e pescadores, além de lideranças das comunidades ribeirinhas, participaram da roda de conversa sobre conflitos socioambientais da Amazônia.  Sentados em torno da mandala com água, um barquinho, bíblia, velas, cartilhas, relatórios do Conselho Pastoral de Pescadores, os participantes realizaram um momento de mística para acolher os companheiros que vieram de algumas regiões do país. Aos acordes do violão, companheiras e companheiros partilharam a troca de saberes, lamentos e esperanças das comunidades.

O objetivo da roda de conversa, além de apresentar as realidades socioambientais dos territórios tradicionais e pesqueiros da Amazônia, foi trazer denúncias e estímulos para propor novas ações em defesa das comunidades e do bioma, visando encaminhamentos para pós Fospa. Foram expostas denúncias de danos ambientais causados aos municípios que estão em torno da hidrelétrica de Tucuruí. O assoreamento dos rios e a evasão das águas diminuíram a produção do pescado. Não bastasse essa gravidade na vida dos pescadores, as comunidades sofrem as consequências do cultivo desordenado do açaí, outra problemática que tem causado a erosão do solo.  A ameaça mais recente é a implantação de uma hidrovia que compromete a vida de todos os ribeirinhos que dependem da água e da floresta para sobreviverem.

No estado do Maranhão veio outra denúncia que ameaça os pescadores da comunidade Arpoador, em Tutóia (MA). A implantação de um parque de energia eólica que tenta a toda força arrendar o território. A empresa buscou recurso de uma liminar, na tentativa de retirar os moradores e ameaçaram os moradores com ordem de despejo. As comunidades do Arpoador têm mantido a articulação e fazem resistência para evitar o avanço dos empreendimentos que já causam danos ambientais graves. Uma empresa de exploração de calcário tem causado o aterramento dos berços naturais que diminuíram a produção do pescado. Os empreendimentos que possuem apoio do governo do estado, além persuadir as comunidades com propostas de venda das áreas dos territórios, emitem com frequência contratos fraudulentos e a comunidade está   em alerta.

“É a primeira vez que participo de um evento dessa magnitude para pedir ajuda ao mundo inteiro. Eu espero que o mundo olhe para nós que cuidamos do meio ambiente, não só porque é nossa sobrevivência, mas é porque ela nos garante a vida”.  Disse Toni Santos do estado do Maranhão que leva novos conhecimentos para sua comunidade e não se sente sozinho na luta pela preservação da vida.

Mais de oitenta comunidades do município de Santa Rita (MA), enfrentam ameaças desde 2019, de forma mais intensa a invasão aos territórios composto pelos povos originários, quilombolas e pescadores.  Um grupo internacional com sede em Portugal, com discurso de programa ecológico e sustentável tem causado prejuízos aos pescadores e ao meio ambiente e todo ecossistema do município. As intervenções do grupo que atende grandes empresas, sem autorização ou qualquer consulta às comunidades, têm prejudicado a piracema, fenômeno de reprodução de peixes.

“A minha comunidade carece de ajuda, a minha presença no Fospa é um grito de desespero. Precisamos de apoio e acolhimento porque o meu povo passa fome. São mais de 400 famílias que sofrem com ações deste grupo que interferiu no nosso território degradando a nossa sobrevivência. A nossa saída neste momento é a organização e formação popular para conscientizar e lutar pela garantia dos nossos territórios”.  Disse Fernanda Dias que está cursando direito para fortalecer a luta da sua comunidade.

A roda de reflexão sobre os conflitos ambientais, partilhou as dores e as ideias de consciência e meios junto aos jovens que criaram o turismo comunitário na comunidade de Humaitá, em Santarém (PA). Com o objetivo de gerar alternativas de renda para os pescadores, os jovens desenvolvem saídas e conscientização da valorização da cultura. Todos da comunidade acabam sendo envolvidos no projeto que gera renda extra para o artesanato, culinária e o turismo, além de conscientizar e alertar das ameaças que sofrem com o empreendimento que também avança na região. 

“Nesta atividade aqui no Fospa, se fez o esforço para se dar visibilidade e voz para dizermos quais as pessoas que sofrem e são vítimas desse modelo de desenvolvimento baseado na exploração máxima dos recursos naturais e a exploração máxima da vida.  Fizemos um recorte do grande continente amazônico de tudo que se vive e resiste na luta pelo direito de ser e permanecer em nossos territórios. Nós quanto pastorais e quanto Igreja, junto ao Papa Francisco, nos esforçamos para sermos respeitados e reconhecidos”, disse Ormezita Barbosa, Secretária executiva do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), ao encerrar a roda de conversa no décimo Fospa.

Linha de ação: 

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