Assessoria de Comunicação do CPP
Mais de 200 manifestantes de cerca de 11 cidades da bacia do rio Doce, entre eles pescadores artesanais, artesãs, areeiros e lavadeiras, bloquearam a ferrovia Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) da mineradora Vale, na altura do bairro Maria Ortiz, em Colatina (ES). A mobilização iniciada no dia 2 de julho foi encerrada na manhã de ontem (03/07), após chegada de ordem judicial para liberação da ferrovia. Os manifestantes tinham como principal pauta o pagamento do auxílio emergencial prometido pela Fundação Renova, mas que passados quase quatro anos do crime cometido pela Samarco, ainda não foram pagos aos pescadores artesanais da região, além de artesãs, areeiros e lavadeiras, categorias ainda não incluídas em nenhum dos programas da entidade responsável pela execução das ações de compensação e recuperação dos danos socioambientais advindos do crime.
Durante as mais de 24 horas em que a ferrovia esteve bloqueada, funcionários da Vale chegaram a avançar com o trem sobre os manifestantes por 7 vezes. “Aquilo ali foi um abuso, eles já mataram várias pessoas e mostraram que não se importariam de matar mais gente”, critica o pescador artesanal, Wagner de Souza, que estava participando da manifestação. “Se tivesse algum idoso na linha férrea, teria sido atropelado”, completa. Na tentativa de desmobilizar, a mineradora chegou a enviar um funcionário que se passou por um oficial de justiça com uma liminar falsa, na noite da terça-feira (02/07). Os manifestantes, no entanto, perceberam a farsa ao olharem a data da liminar que indicava a data de janeiro de 2019, momento em que foi realizada uma manifestação anterior de bloqueio da ferrovia, mas daquela vez, no município de Baixo Guandu (ES).
A polícia também foi chamada oito vezes ao local e ameaçou registrar o nome de todos os manifestantes para enviarem ao juiz. “Eles deveriam estar lá para proteger a população e não a empresa”, critica Wagner. A paralização foi encerrada apenas com a chegada da segunda liminar, dessa vez autêntica, emitida na manhã de ontem. Para a retirada dos manifestantes, seis viaturas foram enviadas ao local. Uma reunião foi marcada entre a Fundação Renova e os manifestantes para o dia de hoje (04/07), mas alimenta pouca esperança para a resolução da situação. “A gente faz as reivindicações e a Renova não atende. Depois que acaba a manifestação, eles fecham o escritório de novo!”, lamenta Wagner. Os pescadores haviam pedido a presença de outros órgãos para participarem da reunião, mas mais uma vez houve apenas representantes da Renova.
Qualidade da água
Outra preocupação dos manifestantes é a qualidade da água do rio Doce, já que não há informações confiáveis sobre se a água já está apta para o consumo ou não. “Nós queremos ter a presença do Ministério da Saúde aqui para examinar o rio. A Renova diz que a água pode ser consumida e inclusive já está distribuindo para as comunidades”, queixa-se o pescador da cidade de Aimorés (MG), Wagner de Souza.
Pescadores da região já relatam casos de doença de pele e problemas respiratórios causados desde que houve o rompimento da barragem de Mariana, em 2015.