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Lançamento da publicação da Coleção dos Corredores Bioculturais traz reflexões sobre as ameaças aos biomas brasileiros

Publicação populariza o conhecimento sobre os biomas brasileiros e é ferramenta importante para formação e trabalho de base

25-10-2024
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Assessoria de Comunicação do CPP | Fotos: Henrique Cavalheiro

Poesias, músicas e muitas informações sobre os biomas brasileiros marcaram o lançamento da publicação “Coleção Corredores Bioculturais do Brasil”, realizado na tarde dessa quinta-feira (24), no Recanto do Pescador, em Olinda (PE). O lançamento foi feito em conjunto pelo Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) –Regional Nordeste 2 e contou com a participação de integrantes das Pastorais sociais de Pernambuco e dos agentes de pastoral dos diferentes regionais do CPP. O evento integrou as atividades do Curso de Formação dos Agentes do CPP, que aconteceu entre os dias 21 a 25 de outubro.

A publicação foi lançada nacionalmente, no dia 12 de setembro, através de uma live de transmissão. Desde então, as organizações parceiras estão fazendo lançamentos regionais. A “Coleção Corredores Bioculturais do Brasil” é uma iniciativa do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental (OLMA) e do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), que conta com o apoio de dezenas de organizações, coletivos e lideranças, incluindo o CPP e a CPT.

O evento foi iniciado com o vídeo da leitura do poema do pescador Raimundo Siri, “Saudades do meu lugar”. Siri foi obrigado a se retirar do seu território, na Ilha de Boipeba (BA), devido às ameaças de morte que sofreu pela possibilidade de instalação de um grande empreendimento imobiliário na região. O poema retrata o sentimento saudosista do distanciamento da terra natal, que descreve a relação do pescador com a natureza e o seu lugar.

O presidente do CPP e bispo da Prelazia de Tefé (AM), D. José Altevir, falou a seguir sobre a importância da publicação e dos biomas brasileiros para o planeta. “O bioma Amazônico vai além de um bioma em si, dada a importância dele para o planeta. Ele ocupa mais de 40% da área brasileira. Esse bioma armazena 20% da água doce do planeta. Ele ajuda a regular o clima na América do Sul. A natureza não existe sozinha, ela é um ser em relação, ela é ecologia. O nosso bioma combate o aquecimento global e as mudanças climáticas. É um bioma que abriga uma imensa biodiversidade e é a maior bacia hidrográfica do mundo”, lembrou o bispo.

 

Construção da Cartilha

O agente de pastoral da CPT NE 2, Ângelo Zanre, que também integra o Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, descreveu detalhadamente a publicação. “Foi um trabalho a muitas mãos, tentando retratar todos os biomas. Cada cartilha, cada volume, tem poesias, tem fotografias e dados”, explica.

A coleção é formada por um conjunto de 7 livretos, onde cada volume retrata um bioma específico. “Cada livreto retrata as características de cada bioma e dos seus corredores bioculturais. Depois discute os desafios e ameaças, em seguida traz as boas práticas. As cartilhas também trazem perguntas para refletir. No final ainda tem dicas de filmes, músicas, poesias e outras produções”, explica.

Ângelo ainda indica que a coleção traz informações importantes sobre as ameaças aos biomas. “A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e está sendo destruído pelas usinas eólicas. Já a Mata Atlântica é um bioma em extinção que tem que ser salvo. O Pantanal é outro bioma que está sofrendo enormemente, com a expansão do agronegócio. Por isso é importante pensarmos e defendermos que os rios e a natureza sejam reconhecidos como sujeitos de direito”, reflete. Ângelo também recomenda que todos os livros da coleção sejam conhecidos. “Tem que ler todos os livros porque todos os biomas estão interligados”.

A Secretária de Território e Meio Ambiente do CPP Nacional, Andrea Rocha, relatou o processo de construção da publicação. “O CPP faz parte do Fórum de Mudanças Climáticas (FMCJS) desde a sua fundação. A partir dos gritos em relação ao clima, onde o capital se impõe sobre os povos, temos pensado no fórum iniciativas de combate ao modelo, mas também temos pensado a necessidade de registrar experiências que mostrem outros caminhos. O OLMA nos provocou a fazermos uma publicação e então pensamos em materiais que pudessem ajudar as pessoas a saberem mais sobre os biomas”, explicou Rocha.

Ela conta que outro ponto importante sobre a publicação é que ela é diversa, com uma linguagem popular, para que possa ser usada para trabalhar com as comunidades. “A gente colaborou para que tivesse os desafios e ameaças. Definimos incluir também boas experiências de cuidado com a casa comum, para que elas possam ser multiplicadas”, explicou.

O CPP foi convidado a fazer a escrita sobre o bioma Costeiro Marinho. O Coletivo de Território e Meio Ambiente do CPP colaborou na produção do livreto sobre a temática. “A novidade é que assumimos o Sistema Costeiro Marinho como um bioma, apesar de ainda não haver esse reconhecimento. A gente traz essa novidade da luta pelo reconhecimento desse bioma”, explica Rocha. Ela ainda fala que um dos conceitos trabalhados é a dos biomas como corredores bioculturais. “Os biomas estão para além dos biomas, eles são corredores bioculturais, com as suas populações e estão interligados”, explica Rocha.

 

 

A violência e as destruições causadas pelo capitalismo

O agente de pastoral da Comissão Pastoral da Terra da região da Mata Norte pernambucana, Benoni Codacio também participou do lançamento e iniciou a sua fala recitando um poema autoral “O legado de vida”, sobre as árvores. “Quando levantamos esse debate sobre manter as árvores de pé, a gente não está discutindo apenas sobre o clima, a gente está discutindo sobre nós”.  Codacio lembra que a fala das pastorais defende a importância da água, dos pescadores artesanais, mas que o capitalismo ameaça esse modo de vida. “Nessa Zona da Mata que estou falando, tem mais cana do que mata. A cana para ser produzida, houve um regime escravocrata. O modelo de exploração capitalista precisa da escravidão para se manter, precisa explorar a natureza para se manter. A terra está usurpada, já não aguenta mais. Esse capitalismo que a gente tem é predatório”.

O agente de pastoral relata que trabalha em área de poceiros onde há muitos conflitos agrários. “O modelo de exploração capitalista é violento. No mês passado, 4 agricultores e agricultoras foram alvejados. Em qualquer parte do mundo o capitalismo é violento contra a classe trabalhadora. O capitalismo quer explorar o agora, não quer saber do futuro. Precisamos discutir outro modelo para sociedade que seja viável. Por isso, essa publicação tem que chegar nas pessoas para discutirmos o modelo de sociedade que queremos, para ganharmos mais pessoas para a nossa causa e para a nossa luta”, defendeu.

Os agentes de pastoral do CPP ficaram animados com as informações trazidas pela publicação. Para a agente de Pastoral do CPP, Maria da Conceição Pereira, as cartilhas cumprirão com o papel de apresentar os biomas com as pessoas e a natureza. “É importante apresentar os biomas com vida. Porque assim como o capitalismo não reconhece a vida do pobre, não reconhece a vida da natureza”, defende.  Já o agente de pastoral, Gilberto Lima, ficou entusiasmado com as boas práticas sistematizadas. “É importante ver esse material e ver que tem experiências boas, que tem a cultura, a música, que é o que mantém viva a comunidade”. A agente de pastoral, Fatinha Veras, aponta que a publicação vai ajudar a popularizar as informações. “É para divulgar, pulverizar e colocar na mão do nosso povo”.

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