O momento de partilha durante a Assembleia Nacional da pastoral tem o objetivo de facilitar as trocas entre os regionais para que as experiências sejam conhecidas e replicadas
Assessoria de Comunicação do CPP
Experiências exitosas de trabalho pastoral foram compartilhadas pelos participantes da Assembleia Nacional do CPP durante o segundo e terceiro dias do encontro. O objetivo das partilhas é conhecer as experiências que estão sendo realizadas em outros regionais, aprender com os êxitos e as dificuldades enfrentadas para servirem de inspiração para o trabalho que é realizado na base com as comunidades pesqueiras.
Cada um dos 8 regionais ficou responsável por apresentar uma experiência, relatando os aprendizados, os problemas enfrentados e as conquistas obtidas pelos projetos. O momento chamado de “Afluente da Memória” foi assessorado por Adriano Martins, do Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais (CAIS). “Ações concretas estão sendo desenvolvidas e a nossa tarefa é construir aprendizados. O nosso exercício é o de olhar com curiosidade, de maneira amorosa, mas também crítica”, sugeriu Adriano.
A seguir, seguem breves descrições das experiências apresentadas:
CPP Norte 2
O CPP Norte 2, que atua no estado do Pará, apresentou 2 experiências, que estão em curso na região do Baixo Tocantins e do Baixo Amazonas.
A primeira experiência apresentada foram as Cartografias Sociais que estão sendo desenvolvidas com as comunidades pesqueiras no município de Limoeiro do Ajuru (PA). A ameaça da instalação da hidrovia Tocantins-Araguaia, que pode impactar na retirada do Pedral do Lourenço e na destruição dos pesqueiros, foi uma das motivações para dar início ao projeto.
Na Cartografia Social, o mapa do território é construído e descrito pelas próprias comunidades, que vão mapeando os locais e fazendo a descrição das atividades e ações desenvolvidas em cada ponto. Essa é uma das formas encontradas pelas comunidades para fazerem a defesa dos seus territórios, em conjunto com os acordos de pesca.
“A cartografia social olha tudo, para que o povo possa enxergar a sua própria existência, sua economia. Ela traz a possibilidade de envolver todos os sujeitos para que eles passem a valorizar mais os acordos de pesca que foram construídos”, relataram alguns dos beneficiários do projeto no vídeo exibido aos participantes.
A outra iniciativa que está sendo desenvolvida no estado há 2 anos é a “Frente em Defesa dos Territórios de Ituqui e Maicá”, no município de Santarém (PA). A Frente organiza 30 comunidades com representantes de diferentes povos e comunidades tradicionais como indígenas, quilombolas e pescadores artesanais.
A pressão do agronegócio na região para a construção de portos para a venda de soja foi uma das razões que motivou a organização da frente. “Foi feito um trabalho com as organizações locais, construímos espaços de articulação e mobilização das comunidades”, explicou o agente de pastoral Renan Rocha, ao apresentar a experiência.
Como resultado da ação, foram estreitadas as relações com as comunidades, foi feito um Mapeamento Participativo Comunitário e a identificação das formas de uso do território. Os dados revelam a importância do pescado para as comunidades que consomem peixe diariamente.
São consumidas 31 etnoespécies de peixe, cerca de 2,5kg de peixe para cada família. No Ministério Público Estadual (MPE), foi apresentado o mapeamento, que está sendo realizado pela Frente, como defesa do território e uma das formas de fazer resistência a ameaça de perde-lo.
CPP Norte 1
Já o CPP Norte 1, que abrange o estado do Amazonas, apresentou o trabalho que foi realizado com os pescadores, na Prelazia de Tefé (AM), durante a década de 70 e que está servindo de inspiração para a retomada da pastoral na região.
A partir da diminuição dos estoques pesqueiros e do lançamento da Campanha da Fraternidade de 1979, cujo tema era “Preserve o que é de todos”, houve um estímulo por parte da Igreja, através da Prelazia, de que os pescadores se organizassem de forma que evitasse a sobrepesca na região.
Foram então criados Comitês de pesca onde cada comunidade tinha 2 ou 3 representantes que eram responsáveis por fazer a fiscalização da área e assim evitar a pesca predatória. O documentário exibido pela equipe revelou a decisão das comunidades de deixarem um dos lagos sem pescar por 3 anos. Depois desse intervalo, o mesmo lago estava com bastante peixe e abastecendo outras áreas.
“Cuidamos do lago para evitar que os ladrões passem aqui. Estamos preservando para não faltar o pão de cada dia”, declarou um dos pescadores entrevistados no vídeo. Utilizando a estação de rádio e as cartas para fazerem denúncias, os pescadores e pescadoras conseguiram ver os resultados.
Houve o crescimento do estoque pesqueiro e a união das comunidades. “Queremos dar continuidade a esse trabalho contando com a ajuda do CPP”, explica a agente de pastoral Juliana Martins.
CPP MG/ES
Em setembro de 2022 teve início no regional Minas Gerais e Espírito Santo, o “Projeto de Vida – Juventudes Pesqueiras na Universidade”.
O projeto foi criado para responder à constatação de que muitos dos jovens das comunidades quilombolas e pesqueiras acompanhadas pelo CPP no norte de Minas Gerais, demonstravam diagnósticos de depressão grave, em que havia até ameaças de suicídio.
Em meio aos graves conflitos territoriais enfrentados pelas suas comunidades, os jovens demonstravam baixa autoestima. Em encontros realizados com a juventude, foi possível ouvir os desejos de muitos desses jovens de entrarem nas universidades. Foi criado então o projeto em que os jovens quilombolas tinham aulas de reforço das disciplinas que são importantes para aprovação no ENEM.
Nesse processo foram estabelecidas parcerias com a universidade Unimontes e com o Instituto Federal de Minas Gerais, localizado em Januária (MG) e com a Escola Familiar Agrícola (EFA). Terapeutas também passaram a prestar assistência psicológica aos jovens. Com a aprovação do projeto financiador, foi possível adquirir tablets para os estudantes que estavam no terceiro ano do Ensino Médio para poderem estudar.
Dos 16 jovens que participaram do projeto, 5 se tornaram universitárias. As outras jovens conseguiram ingresso em cursos técnicos ou estão se preparando para o ENEM. A pastoral vai iniciar um novo projeto agora, para ajudar na permanência da juventude na universidade. “O projeto transformou a minha vida, me incentivou e me tornou mais confiante”, relatou uma das jovens atendidas em depoimento em vídeo.
CPP Maranhão
Em 2023 foi iniciado um trabalho com crianças e adolescentes das comunidades pesqueiras com o objetivo de ajudar no processo de leitura crítica da realidade. A ideia é ajudar as crianças a se engajarem nas lutas das comunidades com a valorização e defesa do território.
Uma das estratégias utilizadas para alcançar essa leitura crítica com as crianças, foi a proposta de cine-debate, onde era exibido um curta-metragem e as crianças falavam sobre o tópico logo em seguida. Foram feitos trabalhos de grupo com as crianças e adolescentes. Onde a partir da realidade em que vivem, eles falam o que querem reivindicar. Nas ações é trabalhada a formação integral das famílias e a incidência dentro do território e do meio ambiente.
CPP Nordeste 2
Desde o ano de 2021 teve início o projeto de Fundo Rotativo do Regional Nordeste 2. O objetivo do fundo é impulsionar atividades produtivas com apoio financeiro de pequeno porte.
O Fundo Rotativo tem sido oferecido às comunidades acompanhadas pelo regional nos estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e no litoral sul da Paraíba. Os pescadores que são beneficiados pelo fundo, têm o compromisso de devolverem o valor emprestado e junto com ele, darem uma pequena contribuição para o fundo.
41 pessoas já foram beneficiadas pela iniciativa, que tem o percentual positivo de 100% de devolução dos empréstimos. “Há o desafio da administração financeira do projeto, mas é possível intervir com pequenas iniciativas. Ajudar um pescador a adquirir a sua canoa já muda muito a realidade do pescador e da pescadora!”, defende o agente do CPP NE 2, Rubem Tavares.
O Fundo já financiou conserto de embarcações, compras de equipamentos e insumos para aumento de produção.
CPP Ceará/Piauí
Foi iniciado em 2019, na região do Delta do Parnaíba, no Piauí, o projeto “Asas para o Delta”. O projeto nasce a partir da constatação da diminuição dos estoques pesqueiros na região da Resex do Delta do Parnaíba e tem o objetivo de através de acordos de pesca, fazer a gestão da pesca do camarão.
Para dar início ao projeto foram desenvolvidas parcerias com outras organizações e com instituições de pesquisa. Nos estudos feitos, foi constatado que o Jequi, apetrecho de pesca usado para a captura do camarão, tinha uma malha de rede que capturava tanto camarões adultos quanto jovens, o que prejudicava na reprodução da espécie. Foi definido então que a melhor malha para a pescaria seria a de 10mm.
“Há 4 anos atrás não pegávamos o pescado. Estamos cada vez mais aumentando a produção. Temos nos preocupado com os berçários e pesqueiros”, descreveu um dos pescadores entrevistados do vídeo exibido durante a apresentação.
Além de estabelecer regras para a pesca, o projeto tem discutido uma minuta de lei de pesca para o município, em que é garantido um Seguro-defeso para ajudar os pescadores durante a reprodução das espécies.
A segunda fase do projeto tem o objetivo de substituir os jequitis feitos com garrafões de água por jequitis tradicionais feitos com a tala da carnaúba. Já conseguiram orçamento para a substituição de 1500 jequitis.
CPP Sul
Em 2023 foi iniciado um projeto com pescadoras de 5 comunidades do Complexo Lagunar, em Santa Catarina. O objetivo do projeto é ajudar as mulheres na construção da autoestima, além de ensiná-las a manipular o pescado de maneira higiênica dentro das normas da Vigilância Sanitária.
Mais de 100 mulheres pescadoras têm participado dos encontros, que têm servido como momentos de autoconhecimento e autoidentificação das mulheres. São realizadas também práticas de biodança e autocuidado em que as mulheres têm a oportunidade de acolherem umas às outras.
As pescadoras também têm passado por oficinas de formação sobre política e sobre os direitos das mulheres pescadoras. “Foi muito gratificante. A gente se fortalece cada vez mais a cada encontro”, agradece uma das pescadoras entrevistadas.
CPP Bahia/Sergipe
No regional Bahia e Sergipe tem sido realizado o projeto “Arte, cultura e comunicação fortalecendo o território” desde o ano de 2023. Cerca de 120 jovens e crianças de 13 comunidades nos dois estados têm passado por oficinas que tratam de arte, cultura e cidadania ativa.
O projeto teve início a partir da reivindicação dos jovens que pediram para ser feito um projeto com a juventude. A dura realidade de presença de narcotráfico nas comunidades também foi um dos motivadores para concretizar o projeto.
Engajamento, conscientização e fortalecimento da consciência crítica dos jovens são alguns dos objetivos do projeto, que visa também fortalecer o pertencimento dos jovens às comunidades.
Foram realizadas oficinas de arte, cultura, cidadania ativa, além de formações em educomunicação. Outras atividades realizadas pelo projeto também foram os intercâmbios entre as comunidades e o acesso aos bens culturais das cidades, como museus, teatros e centros históricos. O ponto ápice do projeto foi a realização de um festival no mês de outubro, no Pelourinho, em Salvador (BA), onde os jovens puderam fazer apresentações culturais da dança de São Gonçalo, samba de roda, xaxado, entre outras manifestações culturais.
“Houve um resgate da nossa cultura do São Gonçalo. Aprendemos a tocar e bater. Hoje me orgulho de ser um guia de São Gonçalo, trazendo a nossa cultura para que nunca seja esquecida”, comemorou Franqueones de Souza Santos, jovem de uma comunidade pesqueira de Juazeiro (BA), que participou do projeto.