CPP participou do evento e debateu sobre o impacto das eleições recentes e as ameaças que o agronegócio representa para as comunidades tradicionais
Assessoria de Comunicação da Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, com edição da Assessoria de Comunicação do CPP
Entre os dias 11 e 12 de outubro, a Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste iniciou a celebração de seus 10 anos com um seminário em Salvador (BA), reunindo representantes de diversas organizações, movimentos sociais e redes feministas do Nordeste. O encontro marcou a retomada das atividades presenciais após quase três anos de pandemia, e destacou a força e a resiliência das mulheres do campo, das águas e das florestas, frente aos desafios socioeconômicos e políticos que continuam a afetar as mulheres e as comunidades rurais. O Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) e a Articulação Nacional das Pescadoras (ANP) foram algumas das organizações que participaram do evento.
A abertura do evento foi conduzida pela professora Laeticia Jalil, do Núcleo Jurema da UFRPE, que agradeceu o esforço das organizações e recordou as principais conquistas da Rede ao longo da última década. As participantes foram recebidas com a música "Eu não posso mudar o mundo, mas eu balanço", ao som do berrante e da leitura de um cordel comemorativo, seguidos de cantigas populares que uniram as mulheres dos nove estados do Nordeste, reforçando o espírito de união e luta.
Entre os destaques do primeiro dia, foi lançada a publicação sobre as cadernetas agroecológicas, um importante marco metodológico que tem sido fundamental para fortalecer a autonomia das mulheres no campo. Beth Siqueira, do NEIM/UFBA, ao apresentar a publicação, afirmou: "As cadernetas agroecológicas são uma ferramenta de poder para as mulheres. Elas mostram, com dados, o quanto podemos transformar vidas e nossas comunidades". As cadernetas permitem que as mulheres reflitam sobre sua produção e papel na economia familiar, contribuindo no monitoramento e aumentando sua participação na agroecologia.
Durante o seminário também destacaram a importância de políticas públicas que beneficiam diretamente as mulheres rurais, como as cisternas de consumo humano, que permitiram que muitas delas voltassem a estudar. Patricia Mourão, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, destacou o trabalho para reconstruir políticas públicas que foram desmontadas nos últimos anos e reforçou a necessidade de incorporar o feminismo nessas ações. "Estamos trabalhando para que as políticas cheguem às mulheres e, principalmente, que incorporem uma perspectiva feminista. Só assim conseguiremos avançar nas políticas de assistência técnica e econômica para elas", disse. Ela mencionou, por exemplo, o edital recente que garante recreação infantil durante as atividades de assistência técnica, visando facilitar a participação das mulheres.
A mesa de conjuntura política reuniu representantes de movimentos como o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Articulação de Mulheres do Cerrado, Articulação Nacional das Pescadoras (ANP), GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR-NE) e o GT Mulheres e Agroecologia da ASA Paraíba, que discutiram o impacto das eleições recentes e as ameaças que o agronegócio representa para as comunidades tradicionais. Leila Santana, do MPA, enfatizou a importância de resistir ao avanço de políticas predatórias e alertou para as falsas soluções ambientais promovidas pelo mercado.
O seminário também está sendo um espaço para a construção de estratégias conjuntas, onde a comunicação foi apontada como uma frente essencial de disputa política. As participantes reafirmaram o compromisso de continuar lutando pela agroecologia feminista, reconhecendo que sem a terra e sem as mulheres, a agroecologia não pode prosperar. A programação seguiu esta tarde com trabalhos em grupo que promoveram o diálogo e a auto-organização das mulheres para os próximos anos.
A agente de pastoral do CPP nordeste 2, Laurineide Santana, participou do evento. Ela defende a relevância política da rede. “A rede é um espaço importante para as mulheres pescadoras, de articulação e fortalecimento para defender seus territórios para o acesso às políticas públicas. Acredito que as pescadoras devam avançar nesse espaço como forma de fortalecimento das lutas das mulheres”, afirmou.
Sobre a Rede Feminismo e Agroecologia
É uma articulação de mais de 20 organizações que, ao longo dos últimos 10 anos, têm trabalhado na promoção de uma agroecologia feminista e antirracista, atuando em defesa dos direitos das mulheres rurais, comunidades e povos tradicionais, e juventudes. O seminário de 10 anos é um marco importante para a rede e suas parceiras, que continuam mobilizadas na defesa de políticas públicas inclusivas e no fortalecimento da agroecologia como modo de vida.