Primeiro seminário nacional de formação das mulheres da Via Campesina Brasil ocorreu na manhã desta quinta, 25, em formato online
Por Mateus Quevedo
Mulheres do campo, das águas, das florestas e das cidades participaram do primeiro seminário de formação realizado pela Via Campesina Brasil nesta manhã. O seminário lançou a jornada de lutas:"MULHERES EM DEFESA DA VIDA: Pela garantia do SUS, contra a fome e a violência" que ocorrerá durante os dias 7 a 14 do próximo mês. O dia D será o 8 de março, data que marca o dia Internacional da Mulher. Mais de 100 mulheres dos movimentos que compõe a Via Campesina Brasil e de organizações do Campo Popular, incluindo o CPP, participaram do encontro.
O espaço, organizado em formato virtual, contou também com a presença de Eliane Martins, dirigente nacional do Movimento das(os) Trabalhadoras(es) por Direitos (MTD), que contribuiu com a análise de conjuntura. Para a dirigente e socióloga o Estado brasileiro, comandado pela burguesia, se ausenta do papel de mediador entre os interesses do sistema financeiro – represente maior do Capital – em detrimento dos direitos da classe trabalhadora. “Metade das pessoas no Brasil ou estão desempregados, desalentados ou na informalidade, nesta fração há uma massa gigantesca de mulheres que nenhuma regra de proteção existe e nessa relação capital/trabalho o indivíduo liberal é o único responsável pelo seu sucesso ou fracasso”, traduz Eliane.
No dia em que beiramos 250 mil mortes pela covid-19, Eliane denuncia que no sistema capitalista as pessoas da classe trabalhadora são vistas como produtos, que são descartáveis e que este descarte é lucrativo para a burguesia. E finaliza apresentando a urgência de transformarmos as lutas táticas pela vacina, pelo auxílio emergencial em um processo que desemboque na elaboração, construção e conquista de um projeto estratégico de país construído desde as mãos das mulheres e dos homens.
Ayala Ferreira, dirigente nacional do Movimento de Trabalhadoras(es) Rurais Sem Terra (MST) também contribuiu para a análise. Ela que falava desde a região sudeste do Pará, pertencente à Amazônia, trouxe uma leitura sobre os interesses do capital financeiro sobre a mercantilização dos bens naturais. “Está em curso de pressão sobre os sujeitos e os territórios, uma ação combinada, e intensiva e expansiva, de maneiras que não existam nenhum espaço que hoje não é alvo dos interesses do capital no campo”, denuncia Ayala. Ainda trouxe a necessidade de uma mudança estrutural na política econômica do Brasil, que tem transformado o território brasileiro em uma grande fazenda de commodities.
Este aspecto também foi trabalhado por Adriana Mezadri do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) reafirmando que a natureza tem sido tratada como uma mercadoria, assim como a vida das mulheres. “O feminicídio é alarmante, no Brasil de hoje temos um número de 6 mulheres assassinadas por dia”, ilustra. Adriana também aproveitou para anunciar o lema da jornada de lutas a nível continental: “Contra o vírus do patriarcado e do capitalismo, a vacina do feminismo e da solidariedade”. E completa: “Somente a solidariedade, a construção coletiva, da unidade da classe trabalhadora, da unidade da luta das mulheres da classe trabalhadora, do diálogo entre as mulheres do campo e da cidade é que construiremos um novo mundo possível com vida, alimento e direitos.”
A plenária foi carregada com todo o peso que as mulheres carregam desde o surgimento dos tempos: o peso da vida, das dores do parto, do fluxo de sangue. Uma afirmação feminista e popular, que no levantar dos punhos também afirma os calos das mãos camponesas. “Contra a fome e as violências/ Em defesas da vida estamos/ Nenhum um dia de silêncio/ Em unidade caminhamos/ Para romper com o fascismo/ De um desgoverno tirano/ Guiadas pelo feminismo/ Que é camponês e popular/ Mostramos que somos muitas/ E diversas à lutar/ Romper todas barreiras/ E com socialismo avançar”. Foi com essas palavras que a jovem Hérica Janaina da Pastoral da Juventude Rural iniciou a plenária e com elas seguem ressoando até 8 de março.