Encontro realizado em 1º de outubro na Defensoria Pública do Espírito Santo discutiu a criação da CATRAPOVOS, que permitirá às marisqueiras venderem seus produtos para escolas e fortalecer a pesca artesanal
Comunicação do CPP e CPP/Regional MG e ES
No dia 1º de outubro, marisqueiras de Itapemirim, no sul do Espírito Santo, participaram de um encontro na sede da Defensoria Pública do Estado, em Vitória, para discutir a criação da Comissão de Alimentos para Povos Tradicionais (CATRAPOVOS). A iniciativa busca garantir o acesso dessas trabalhadoras ao mercado institucional, especialmente por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), e fortalecer o reconhecimento dos saberes e modos de vida tradicionais da pesca artesanal.
São cerca de 80 marisqueiras de Itapemirim que atuam na coleta e comercialização de mariscos, especialmente nas localidades de Itaipava e Itaoca, garantindo o sustento de suas famílias. Elas são parte fundamental da identidade cultural e da subsistência local, transmitindo o conhecimento sobre a atividade pesqueira de geração em geração.
Essas mulheres, pescadoras artesanais desde muito novas, tradicionalmente trabalham na coleta de mariscos como sururu e outros frutos do mar, em manguezais ou nas pedras, como é o caso das marisqueiras de Itapemirim. As atividades de coleta são realizadas na maré baixa, observando as fases da lua, e a comercialização acontece nas praias, restaurantes e de porta em porta nas comunidades de Itaipava e Itaoca. Utilizam ferramentas simples, como cavadeira e facão, e a divisão dos ganhos é feita de forma igualitária e solidária entre todas que participam das etapas de produção.
As marisqueiras desempenham um papel essencial na geração de renda e no fortalecimento da economia local, além de manter vivo um saber sociocultural transmitido de geração em geração. No entanto, apesar de sua importância, enfrentam dificuldades para escoar seus produtos, inclusive para as escolas do próprio município, localizadas próximas às suas comunidades.
“Desde 2023, o Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), regional MG/ES, junto com a Colônia de Pescadoras de Itapemirim, várias organizações sociais e com a Defensoria Pública, vem trabalhando para a instauração da CATRAPOVOS no ES. Com a instauração da Comissão de Alimentos para Povos Tradicionais no ES, as marisqueiras terão acesso na venda dos mariscos para as escolas do município participando do PNAE que hoje permite que os povos tradicionais participem de 45% das vendas de produtos para as escolas”, explica Luzineide Pinto, agente de pastoral do CPP-MG/ES.
Para a agente, essa iniciativa vai dar visibilidade ao trabalho das mulheres marisqueiras, muitas são chefes de família, garantindo segurança alimentar, emprego e renda. “Além disso, dar continuidade à tradição de marisqueiras. É uma garantia do desenvolvimento sustentável da pesca artesanal. É a primeira experiência da CATRAPOVOS no ES, mas que expandirá para todas as Colônias e associações de pescadores e pescadoras artesanais do ES”, disse Luzineide.
Ela lembrou ainda que, no último dia 30 de outubro, foi celebrado o Dia da Moqueca Capixaba, reconhecida como patrimônio cultural do ES, prato que simboliza também a força e a presença das marisqueiras na cultura local.
Para a pescadora e marisqueira Lucila Lopes, a criação da CATRAPOVOS representa um avanço fundamental: “para nós como comunidade tradicional, vai ser muito mais fácil colocar o produto para vender, sem tanta burocracia. Um sonho que é para todos do estado. Escoar o produto e gerar renda para as mulheres”, concluiu.