O Simpósio promove um debate importante sobre o crime do petróleo, unindo o conhecimento científico da universidade com as experiências vividas das comunidades tradicionais, fortalecendo a luta por justiça socioambiental
Texto: Henrique Cavalheiro - Comunicação CPP
Na última segunda-feira (4), a Campanha Mar de Luta participou da mesa de abertura do I Simpósio Internacional sobre o Desastre por Derramamento de Petróleo, promovido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). O evento reuniu impactados, pesquisadores, lideranças comunitárias e autoridades para discutir os impactos persistentes do derramamento de petróleo que devastou a costa brasileira em 2019. A secretária de Território e Meio Ambiente do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) e integrante da Campanha Mar de Luta, Andrea Rocha, trouxe uma fala de memória sobre as consequências do crime do petróleo e a luta dos pescadores e pescadoras artesanais por justiça socioambiental.
“Esse crime do petróleo deixou marcas profundas na vida das comunidades pesqueiras, dos homens e das mulheres que foram afetados”, declarou Andrea. Ela destacou a ineficiência das ações governamentais, que falharam em alcançar as comunidades impactadas, agravando a situação de fome e adoecimento. Segundo Andrea, as mobilizações e ações em resposta ao crime começaram logo no final de 2019, e foi nesse contexto que nasceu a Campanha Mar de Luta. “Reunimos pescadores e pescadoras, lideranças dos nove estados do Nordeste e também do Sudeste, junto com parceiros e universidades, para enfrentar o crime do petróleo”, explicou.
Voz que não silencia
Andrea ressaltou a importância da comunicação como uma ferramenta de luta, especialmente porque a campanha surgiu durante a pandemia, quando a mobilização precisou ser reinventada. “A campanha é aquela voz que não silencia, que não se cala e que continua a dar visibilidade aos pescadores e pescadoras artesanais diante desse crime,” disse ela. A Campanha Mar de Luta se estruturou em quatro Grupos de Trabalho (GTs): Comunicação, Formação, Incidência e Mobilização, que continuam a atuar incansavelmente para manter a memória do desastre viva e pressionar por reparação e responsabilização.
Sobre a realização do simpósio na UFBA, Andrea destacou a relevância de unir a ciência com as vivências das comunidades afetadas. “É fundamental que o que as comunidades relatam seja traduzido em uma linguagem científica que possa comprovar suas experiências”, apontou Rocha. Ela fez um apelo para que as pesquisas apresentadas no simpósio sejam traduzidas de forma acessível, para que os pescadores e pescadoras possam usá-las em sua luta por justiça. “Quando vamos aos órgãos responsáveis, parece que foi apenas um pouco de óleo derramado, porque falta informação. Essas pesquisas são cruciais para comprovar o que vivemos e exigirmos justiça”, afirmou.
Andrea finalizou sua fala com um convite à mobilização: “Convoco todos aqui presentes a aderirem à luta da Campanha Mar de Luta, que é essa união de forças em defesa dos povos das águas e pela recuperação dos territórios afetados. Estamos abertos e à disposição para continuar essa luta juntos.”
O evento também contou com a presença da coordenadora do simpósio, Rita de Cássia Franco Rêgo (PPGSAT/UFBA); da pescadora e representante da Rede de Mulheres, Lilian Santana Santos; de Kátia Cristina dos Santos Cunha, coordenadora-geral de Territórios e Integração de Políticas Públicas do Ministério da Pesca e Aquicultura; de Gervasio Santos, do Cidacs/Fiocruz e professor da UFBA; e de Olívia Maria Cordeiro de Oliveira, representando a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação e atual Coordenadora de Pesquisa.
A participação da Campanha Mar de Luta reforça o compromisso com a justiça socioambiental e a preservação do território pesqueiro, mobilizando esforços para que crimes como o de 2019 nunca sejam esquecidos ou fiquem impunes.
I Simpósio Internacional sobre o Desastre por Derramamento de Petróleo
O simpósio segue ao longo de toda a semana, com uma programação intensa de debates e apresentações que abordam os impactos do desastre por derramamento de petróleo e as ações necessárias para proteger as comunidades pesqueiras e o meio ambiente.
Todas as apresentações são transmitidas ao vivo pelo canal da Cidacs Fiocruz. CLIQUE AQUI
A Audiência Pública, que encerra o evento no dia 8 de novembro, será um momento importante de diálogo e mobilização. Entre os presentes estarão Maria José Pacheco (Zezé), agente de pastoral do CPP, ativista da Campanha Mar de Luta e do movimento “Nenhum Poço a Mais”; Gileno Nascimento da Conceição, pescador e representante do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) e também integrante da Campanha Mar de Luta; e Carlos Alberto Santos (Carlinhos), pescador da Resex de Canavieiras e Diretor da AMEX. O encontro reunirá parlamentares, representantes institucionais, governamentais e da sociedade civil para discutir políticas de pesca sustentável e as urgentes demandas das comunidades tradicionais e costeiras. Será uma oportunidade para amplificar as vozes de quem vive diariamente os impactos ambientais do crime do petróleo e lutar por soluções que garantam um futuro mais digno e sustentável para todos.