No dia 25 de janeiro, quando completou um ano do rompimento da barragem de rejeitos de mineração, no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que tirou a vida de 272 pessoas (duas delas, bebês em gestação), com impactos significativos no meio ambiente, a Arquidiocese de Belo Horizonte realizou a 1ª Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte pela Ecologia Integral a Brumadinho. A programação incluiu apresentações culturais e momentos de partilha, espiritualidade e oração. O agente do CPP Espírito Santo, Francisco Nonato,  participou da atividade e nos relata logo abaixo um pouco da sua experiência. Confira!

Ecologia Integral: profecia, vida e memoria contra os crimes da Vale e por direitos, justiça e memória.

“Venham todos/ cantemos, um canto que nasce na terra/ canto novo de paz e esperança em tempos de guerra/ neste instante há inocentes tombando nas mãos de tiranos/ tomar terra, ter lucros matando são esses seus planos”                    

Canto dos Mártires da Terra - Zé Vicente

A Iª Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte pela Ecologia Integral a Brumadinho contou com a participação dos familiares das vitimas do crime da Vale, Bispos, padres, religiosos e religiosas, com ampla participação das pastorais sociais da Arquidiocese de Belo Horizonte, movimentos populares da região, dos povos indígenas e com manifestações culturais, como os Guardas de Congado. Todas as experiências de fé e vida deram início à Romaria pelas ruas de Brumadinho em memória das 272 pessoas mortas durante o rompimento da barragem. 

O sentimento de defesa da Casa Comum e de denúncia das atrocidades e violações de direitos humanos e ambientais provocado pelo modelo de mineração que mercantiliza e explora os territórios colocando a todos sob riscos diversos era presente em faixas, rostos, canções e bandeiras de resistências. A profissão de fé nas ruas de Brumadinho se fez no ato profundo de denunciar impunidade, silêncio e violências continuadas provocada pela empresa na região.

A Igreja presente em Brumadinho na pessoa do Bispo Dom Vicente Ferreira, Bispo auxiliar de Belo Horizonte foi convidada ao compromisso profético com as comunidades e povos na luta por reparações justas que garantam a perspectiva e as realidades existentes nesses territórios antes do rompimento. O sentimento nas ruas foi de solidariedade, fé e esperança na Igreja que se levanta e fica ao lado dos pobres, oprimidos e violados/as. 

Essas são marcas e memórias em torno da Iº Romaria que foi e continua sendo sinal de resistência para uma diversidade de vozes que estão em estado permanente de luta contra a impunidades da Vale. Questionar o modelo de mineração e seu papel na exploração e nos riscos que coloca a população é papel também de todas as forças que estão em movimento em defesa da vida e dos territórios.

Para nós, do Conselho Pastoral dos Pescadores, a Romaria significa a retomada da profecia que nasce do vale de lágrimas provocadas pela ganancia do capital e das empresas multinacionais. Acreditamos profundamente na aliança de fé e vida na defesa dos direitos dos povos. A Igreja em que nós acreditamos, tem sabor de profecia e anúncio da boa nova. Estamos em profunda comunhão com o Papa Francisco e com a Igreja em Saída.

O CPP durante a Romaria renovou e assumiu o compromisso na defesa das comunidades tradicionais pesqueiras da bacia do rio doce, que estão duramente atingidas, adoecidas e com todos os seus direitos violados. Nossa luta nessa região é por vida, dignidade e respeito aos modos de vida, existir e fazer dos pescadores e pescadoras artesanais.  

Francisco Nonato

Agente do CPP Espírito Santo