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CRISE DE ESTIAGEM NA AMAZÔNIA: CPP e REPAM unem-se em reunião on-line para discutir medidas emergenciais para as comunidades pesqueiras da região

As comunidades pesqueiras do Norte do país estão enfrentando grandes desafios devido à seca na Amazônia, que abrange desde a produção de pescado até a escassez de água e produtos essenciais. Essas preocupações não apenas impactam o presente, mas já lançam alertas sobre o futuro

25-10-2023
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Texto: Henrique Cavalheiro / Assessoria de Comunicação

A situação na Amazônia é cada vez mais alarmante, à medida que a estiagem afeta diretamente a vida de comunidades pesqueiras. Em reunião virtual realizada na noite desta terça-feira (24/10), que contou com a presença de integrantes do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), a A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e membros do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), destacou-se uma realidade angustiante que ameaça a subsistência e a cultura das populações pesqueiras desta região.

Para as comunidades que vivem em territórios historicamente ricos em água, a atual estiagem representa uma ameaça não apenas para o presente, mas também para o futuro. A falta de água para beber, a reprodução de espécies ameaçadas e a sobrevivência humana está se tornando uma triste e preocupante realidade. Os impactos ambientais, sociais e econômicos já estão acontecendo, afetando a principal fonte de renda dessas comunidades.

Josana Pinto, coordenadora do MPP, expressou profunda apreensão diante da severa estiagem que assola a região Amazônica. Ela destacou que essa crise não é apenas um desafio passageiro, mas uma ameaça iminente para o futuro das comunidades pesqueiras. “A gente que nasceu e cresceu com fartura de água, hoje a gente não tem praticamente água nem para beber, nem para o consumo.  Água é a fonte de vida, a gente teme pela reprodução das espécies, a gente teme por nós humanos”, destacou Josana, que ressaltou que para os pescadores artesanais, cuja principal fonte de renda é a pesca, a situação é crítica, já que a estiagem impossibilita a pesca e, consequentemente, a comercialização de pescado.

“Mesmo em meio a todo esse desafio, as comunidades contam, como na época da pandemia, com a solidariedade das próprias comunidades, pois ela não está vindo do governo.  Isso tem feito com que algumas pessoas, inclusive em outras casas, tenham feito algumas contribuições para minimamente a gente comprar água para cada família”, concluiu a pescadora.

Em meio a este momento de tantos desafios, a solidariedade humana entre as comunidades, que se unem para enfrentar os desafios da estiagem é notável. Enquanto isso, os pescadores e pescadoras denunciam que os governos nas esferas municipal, estadual e nacional parecem não demonstrar preocupação com a pesca artesanal e com as pessoas que estão perecendo.

Os pescadores e pescadoras artesanais, presentes na reunião, disseram que em muitas comunidades e para diversas famílias, a assistência a eles ainda não chegou. Os impactos mais imediatos incluem a falta de acesso à água potável e para uso doméstico, a falta de pescados tanto para o consumo tanto para a venda, falta de alimentos, dificuldades para se locomover entre comunidades na busca por produtos, pois os rios secaram e o principal meio de transporte são os barcos, além de que em alguns locais já há interrupção do calendário escolar e impactos nas questões de saúde.

A estiagem na Amazônia gera nas comunidades pesqueiras impactos sociais, econômicos, na saúde física e mental, nutricionais e ambientais.

Segundo Dom José Altevir, presidente do CPP e Bispo da Prelazia de Tefé, as reflexões apresentadas pelos pescadores e pescadoras, assim como pelos agentes de pastoral, foram importantes na busca por soluções e para identificar a quem recorrer para enfrentar essa crise.

“Hoje está muito difícil para essas comunidades que moram nos igarapés, pois estão isoladas, as distâncias se multiplicaram, o que levava antes 2 horas para se locomover, está levando 9 horas, ou seja, um dia de viagem para ter acesso ao que está precisando. As marcas de tudo isso ficarão no nosso território, com a perda da biodiversidade, tantas coisas em desequilíbrio é algo da gente pensar”, disse o bispo.

Dom Altevir mencionou como a falta de água tornou a navegação em rios e lagos impossível, forçando as pessoas a substituírem barcos por motos, o que torna a locomoção muito mais demorada e difícil. Ele alertou sobre as marcas profundas que essa crise deixará no território e enfatizou a necessidade de medidas para a recuperação da biodiversidade e o enfrentamento do desequilíbrio ambiental. Além disso, ele mencionou a importância de programas de assistência para apoiar as famílias afetadas por essa situação crítica.

Grandes empreendimentos e projetos governamentais nas cabeceiras dos rios da região agravam o problema. A falta de coordenação e planos efetivos para enfrentar a seca a curto e médio prazo coloca em risco a sobrevivência das comunidades pesqueiras. Mudanças nos padrões de reprodução dos peixes agravam a situação, com possíveis baixas nas espécies.

Para os participantes da reunião, a falta de assistência e a demora na tomada de medidas eficazes por parte dos governos agravam a situação de vulnerabilidade das comunidades. O aumento dos preços dos alimentos e da água torna a situação ainda mais difícil, por isso, o seguro dos pescadores, impedidos de trabalhar, se torna uma questão de sobrevivência.

Após expressar solidariedade com as comunidades afetadas na região norte, Doris Vasconcelos, articuladora territorial da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), destacou a campanha “SOS Amazônia” que a REPAM em parceria com a Cáritas tem conduzido, com o objetivo de angariar recursos para intermediar ajuda às áreas mais atingidas na Amazônia “Pensar como atender essa população para o futuro, vendo que vai ter uma queda na produção Pesqueira, uma queda na produção agrícola e como garantir sustentabilidade, sobrevivência, mas também econômica dessas comunidades. Ações concretas para o atendimento aos pescadores artesanais que partam da Igreja, mas que também seja uma postura da Igreja diante da sociedade, dos órgãos responsável”, pontuou Doris.

Encaminhamentos

Na busca por soluções concretas e emergenciais, destacam-se a necessidade de ações rápidas direcionadas às comunidades tradicionais, pescadores e pescadoras artesanais e suas famílias, bem como a criação de políticas públicas específicas para o fortalecimento da pesca artesanal na região.

Além disso, há um apelo enfático para a denúncia das causas subjacentes aos desequilíbrios climáticos, ambientais e seus impactos sociais, econômicos e ambientais, bem como a implementação de ações de reabilitação da biodiversidade.

Outras demandas incluem a facilitação do acesso dos pescadores ao seguro defeso, estratégias para o acesso à água potável, a superação das burocracias que retardam a assistência humanitária e a agilização do trâmite para reconhecimento dos estados de calamidade.

Por fim, pretende-se divulgar amplamente a realidade dos pescadores na região, o que terá grande repercussão durante o “XII Grito da Pesca”, programado para novembro, em Brasília, um clamor pelos direitos dos pescadores artesanais, soberania e segurança alimentar, promovido pelo MPP.

CAMPANHA EMERGENCIAL PARA AJUDAR AS COMUNIDADES QUE SOFREM COM A SECA EM TEFÉ (AM)

Outra iniciativa que já está em andamento, é a ação promovida pela Prelazia de Tefé, uma Campanha de Solidariedade, para ajudar as comunidades impactadas pela seca do Lago de Tefé, no estado do Amazonas.

Estão sendo recebidas doações em dinheiro na conta da Cáritas da Prelazia de Tefé através de transferência bancária e PIX, ou se mora em Tefé (AM), pode fazer doação de alimentos pessoalmente, no Centro Ir. Falco.

O CPP apoia essa mobilização e reconhece a urgência de medidas imediatas por parte do Estado para evitar que a situação se agrave ainda mais, especialmente considerando a falta de previsão para a superação da estiagem dos rios. Comunidades pesqueiras privadas da água encontram-se em uma condição de vulnerabilidade extrema, enfrentando desafios abrangentes em termos de economia, saúde física e mental, nutrição, e preservação de suas tradições culturais.

COMO AJUDAR?

– Seguem os dados para depósito: CÁRITAS DA PRELAZIA DE TEFÉ

Banco do Brasil: Nº 001

Agência: 0577-0

Conta Corrente: 2009-5

CNPJ: 08.595.254/0001-01

PIX: 08.595.254/0001-01 (CNPJ)

– Contato para maiores informações: (97) 98115 2373 – Cáritas da Prelazia de Tefé

Linha de ação: