O evento discute temas como apropriação de oceanos, crise climática e soberania alimentar. O MPP Brasil representa o país anfitrião, eo CPP se soma à luta, fortalecendo a defesa internacional dos direitos das comunidades pesqueiras e da justiça climática e ambiental
Texto: Henrique Cavalheiro - Comunicação CPP | Fotos: Henrique Cavalheiro e World Forum of Fisher Peoples (WFFP)
De 14 a 21 de novembro de 2024, Brasília, capital do Brasil, recebe a 8ª Assembleia Geral do Fórum Mundial de Povos Pescadores (WFFP - World Forum of Fisher Peoples), um evento internacional de grande relevância. Pescadores e pescadoras do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) representam os povos das águas do Brasil, enquanto os agentes de pastoral do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) marcam presença, apoiando a luta em defesa das comunidades pesqueiras. A assembleia reúne delegados e delegadas de diversos países para fortalecer a solidariedade global e debater questões urgentes que afetam os oceanos, as águas interiores, a pesca artesanal e os direitos dessas populações.
Luta pela Justiça Climática e Ambiental
A Assembleia Geral da WFFP é um espaço essencial para que pescadores e pescadoras do MPP-Brasil elevem suas vozes diante de desafios globais, como as ameaças aos territórios tradicionais, a privatização das águas, a emergência climática e a luta pela soberania alimentar e nutricional. Esses problemas, vivenciados intensamente pela pesca artesanal no Brasil, são apresentados aos representantes de outros países reunidos em Brasília. O evento fomenta debates que buscam construir soluções globais para garantir a sustentabilidade dos recursos pesqueiros e a dignidade das comunidades de pesca artesanal. A relevância da assembleia se intensifica, já que ocorre simultaneamente à reunião do G20, onde líderes das maiores economias do mundo discutem “falsas soluções” para o clima, às águas e o planeta.
Presença Brasileira Fortalecida
A pescadora paraense Josana Pinto, membro da coordenação nacional do MPP, destaca a importância histórica da 8ª Assembleia da WFFP, realizada no Brasil. “Para nós, como país anfitrião, como movimento anfitrião, é um momento histórico. É um momento de muita animação, mas também de muito empoderamento e intercâmbio: cultural, de solidariedade, de luta, de resistência, de sentimentos e de muitas coisas que temos em comum”, afirmou Josana, ressaltando o caráter único e transformador do encontro.
Josana enfatizou que a Assembleia é um lugar para fortalecer o MPP Brasil e suas bases. “Entendemos que um movimento sem base não se segura. Esse é um momento que vai fortalecer nossa luta e resistência nos territórios, contra todas as formas de agressão que têm vindo contra nossos corpos, cultura, tradições e liberdade”, destacou. A pescadora também sublinhou a necessidade de levar as denúncias de violação aos direitos dos povos pescadores a espaços internacionais, como a ONU, reforçando que este encontro é um ponto de partida para novas ações de visibilidade global.
Além disso, Josana fez um alerta sobre a emergência climática, destacando que as mudanças climáticas não são mais um problema do futuro, mas uma realidade que já impacta duramente as comunidades. “Precisamos que os governos reconheçam que a emergência climática existe e que é preciso tratá-la de forma adequada, sem soluções enganosas. Enquanto o G20 negocia nossos territórios e apresenta falsas soluções, aqui na Assembleia discutimos propostas reais e exigimos respostas efetivas. Mudanças climáticas estão afetando não só o Brasil, mas o mundo inteiro, especialmente os homens e mulheres do campo, da floresta, das águas e da cidade”, declarou, apontando para a responsabilidade coletiva e a urgência de ações concretas.
A Força da Coletividade
Representante dos povos das águas da costa pacífica do Equador, Líder Bóngora Farías destacou a urgência da luta coletiva durante a 8ª Assembleia. “Vim dos manguezais para participar deste fórum mundial, onde estamos juntos pensando, discutindo e buscando caminhos coletivos para enfrentar o modelo capitalista que destroi nossos ecossistemas, tanto marinhos quanto terrestres”, afirmou. Líder ressaltou a necessidade de agir contra a destruição em massa provocada pela indústria, que ameaça tanto o meio ambiente quanto as comunidades que dependem dele. “Há um deslocamento, um desmantelamento dos nossos espaços de vida, e precisamos enfrentar isso com união e determinação”, completou.
A importância da colaboração internacional e o papel ativo do movimento de pescadores e pescadoras do Brasil na organização do evento foram igualmente enfatizados. “Estamos aqui com representantes de mais de 40 países para debater e buscar acordos finais que possamos apresentar aos governos e ao mundo, pedindo que detenham a destruição, reduzam a poluição e enfrentem a crise climática que está impactando fortemente nossas costas”, explicou Farías. Ele destacou que a ação coletiva é essencial: “Estamos trabalhando de forma comunitária, co-criando conhecimento para levar de volta às nossas comunidades, porque essa luta não é mais só local, é uma luta global”.
Defesa da Casa Comum
O secretário-executivo do CPP, Francisco Nonato, ressaltou a importância da 8ª Assembleia da WFFP. “O Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras, na condição de convidado, está participando deste espaço de articulação de diversos movimentos de pescadores e pescadoras do mundo”, afirmou Nonato. Ele enfatizou que o evento promove discussões importantes para as comunidades tradicionais pesqueiras: “O objetivo é discutirmos o impacto da crise climática, a privatização das águas para atender às demandas do capital, as falsas soluções que estão sendo apresentadas nesse momento crítico da crise ambiental global, e as graves violações de direitos humanos decorrentes da expansão de empresas petrolíferas e de projetos de mineração”, ponderou.
Nonato sublinhou que o fórum busca construir uma agenda comum de incidência e mobilização internacional. “Esse fórum tem como objetivo fazer essas reflexões e tirar apontamentos comuns”, explicou. Ele destacou, ainda, que a assembleia é um espaço para compartilhar soluções de bem viver apresentadas pelos pescadores e pescadoras, que promovem a convivência harmoniosa e a proteção dos oceanos e águas continentais. “O CPP fortalece essa defesa da casa comum e essa aliança internacional com as organizações de pescadores artesanais”, concluiu.
Programação Diversificada e Temas Urgentes
A programação do evento inclui atividades temáticas que deram espaço a diversos grupos, começando com a Assembleia de Mulheres, onde foram discutidos os desafios enfrentados pelas mulheres pescadoras em todo o mundo, destacando a importância do empoderamento feminino e da ocupação de papeis de liderança. Na sequência, a Assembleia dos Povos Indígenas trouxe à tona o vínculo profundo dessas comunidades com o meio ambiente e suas contribuições essenciais para a preservação dos recursos hídricos, ressaltando que soluções reais para o planeta passam pelos povos originários. Assim como, a Assembleia da Pesca Interior, que abordou as dificuldades enfrentadas por pescadores de águas interiores e as estratégias para fortalecer suas vozes.
Em outra parte da programação, a juventude foi o centro das atenções em uma Assembleia dedicada a jovens pescadores e pescadoras, promovendo diálogos sobre justiça hídrica e práticas de pesca sustentáveis. A Cerimônia Inaugural trouxe momentos de emoção e reflexão, com discursos inspiradores de líderes da WFFP e apresentações culturais brasileiras, que destacaram a riqueza cultural e a resiliência dos povos do mar.
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A programação segue até o dia 21 de novembro, com o objetivo de promover debates profundos sobre as ações necessárias para garantir a dignidade e os direitos das comunidades pesqueiras. Estão previstas discussões estratégicas, paineis temáticos e atividades que reforçam a importância da pesca artesanal no mundo. O evento culminará com uma mobilização no Dia Mundial da Pesca, destacando a resiliência e a luta dos pescadores e pescadoras artesanais.