Assessoria de Comunicação do CPP
Os segundo e terceiro dias do Curso de Formação dos Agentes de Pastoral do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) 2023, contou com a assessoria da religiosa e vice-presidente da Cáritas Nacional, Ir. Cleusa Alves. Iniciado na segunda-feira (11), após três anos sendo realizado de maneira remota, devido a pandemia, o curso voltou a ser realizado presencialmente na sede do CPP Nacional, no Recanto do Pescador, em Olinda (PE), e deve seguir até o dia 15. Esse processo de formação sistemático do Curso de Formação dos Agentes tem acontecido desde o ano de 2011.
Nesse ano, o Sínodo 2021-2024 é um dos temas da formação. Iniciado pelo Papa Francisco em outubro de 2021, com a fase diocesana, que foi finalizada em agosto de 2022, o Sínodo passou para a etapa continental que foi encerrada em 31 de março desse ano (2023). No Brasil foram 261 as dioceses que enviaram suas sínteses, o que representa 93% do total. Essas sínteses foram a base para a elaboração da Síntese Nacional.
Em junho desse ano (2023) foi publicado o Instrumentum laboris, o documento que é a base para o trabalho dos participantes do Sínodo que discute o tema da Sinodalidade, programado para ocorrer em outubro de 2023 no Vaticano e ser encerrado em 2024. O documento reúne a experiência das dioceses de todo o mundo nos últimos dois anos, quando Francisco deu início, em outubro de 2021, a um caminho para entender quais passos tomar “para crescer como uma Igreja sinodal”.
Algumas das propostas trazidas pelo documento estão sendo apresentadas aos agentes de pastoral durante esses dias de formação que tiveram a assessoria do bispo da Prelazia de Tefé (AM) e presidente do CPP, D. José Altevir, no primeiro dia (11) e na manhã do segundo dia (12).
Já a participação da Ir Cleusa Alves, que aconteceu em seguida, abordou o tema “Caminhos no CPP de comunhão, participação e missão nas comunidades tradicionais pesqueiras – ‘Caminhar juntos’”. A freira iniciou a sua fala trazendo uma reflexão sobre Redes e Sinodalidade. “Temos diferentes redes que se entrecruzam, entrelaçam formando as suas identidades. Vamos juntando forças porque entendemos que separadas temos menos força do que quando estamos juntos”, reflete.
Ir Cleusa explica que a palavra Sínodo significa fazer o caminho juntos. “Para falar de sinodalidade, a gente tem que falar de gente, de humano. Como vamos falar de caminhar junto se a gente não é capaz de se olhar de frente? A trindade santa nos mostra que o Pai, o Filho e o Espírito Santo se preocupam com a humanidade”, explica.
A religiosa ainda fala da defesa que o Papa faz de uma Igreja sinodal. “Para o Papa Francisco, o caminho da sinodalidade é o caminho que a Igreja espera para o terceiro milênio. Nós, seres humanos, somos vocacionados a comunhão. A nossa vocação principal é a comunhão. O importante não é chegar primeiro, mas chegarmos juntos e na hora certa. O importante é o caminhar juntos”, defendeu a freira.
Ela ainda fala que o ‘caminhar juntos’ não é apenas olhando para dentro, mas percebendo essas estruturas e relacionamentos externos. “As encíclicas ‘Fratelli Tutti’ e ‘Laudato Si’ nascem dos diálogos com outras religiões. É o caminhar junto com o diferente”, explica. Ir. Cleusa também fala que o Sínodo dá continuidade a processos iniciados anteriormente. “O que a gente tem que ter presente é que o Sínodo é uma continuidade. Esse processo de abertura começa no Concílio Vaticano II. E bebendo da experiência dessa caminhada, precisamos ver qual modelo de Igreja vai responder aos desafios de agora. Não estamos vivendo uma época de mudanças, mas uma mudança de época”, sintetiza.
Segundo a religiosa, a Igreja Sinodal proposta por Papa Francisco aponta para a missão. “A dimensão missionária não é proselitista. É de uma Igreja em saída, é uma Igreja que vai ao encontro. Se confundirmos a chave missionária com proselitismo, vamos entender tudo errado”, alerta Ir. Cleusa.
Os riscos para o processo Sinodal
Na sua fala, Ir. Cleusa apontou ainda para três riscos que o Papa Francisco alerta que podem acontecer durante o processo Sinodal: o formalismo, o intelectualismo e o imobilismo.
“O risco do formalismo seria o de reduzir o Sínodo à uma questão formal, já que o avanço que o Papa Francisco traz não chega nas paróquias. Muita gente não quer saber do Sínodo, porque o sínodo mexe com as relações de poder”, explica Ir. Cleusa. “Temos que rever o papel dos leigos e leigas, criar instrumentos e estruturas que favoreçam o diálogo e a interação no Povo de Deus, sobretudo entre sacerdotes e leigos”.
Sobre o risco do Intelectualismo, Ir Cleusa explica que corremos o risco de nos distanciarmos da realidade. “Temos a tentação de pensar que nós sabemos o que o povo precisa. Às vezes a nossa reflexão vai para um lado e o povo está caminhando para um lado completamente diferente. Corremos o risco de cair no falar por falar”, alerta. “Não podemos cair no campo da abstração e nos descolarmos da realidade”.
Já o risco do imobilismo acontece pelo conservadorismo de acreditar que as coisas devem continuar sendo feitas do mesmo jeito. “Vai mudar agora para quê? Sempre foi assim. Quem pensa e anda assim, corre o risco de não levar à sério o tempo que vivemos. O trabalho tem que apaixonar a gente. Não pode ser por mero formalismo. Tem que ser apaixonado e encarnado e imprimir um estilo de comunhão e participação orientado para a missão”, explicou Ir. Cleusa.
Igreja da Escuta
Ir Cleusa ainda aponta que devemos evitar respostas artificiais e superficiais. “Papa Francisco diz que devemos aprender a ouvirmos uns aos outros. Então devemos fazer a escuta do mundo e dos desafios. Não vamos ficar parados nas nossas certezas. Escutar é entender o que o outro enxerga dessa realidade. A escuta é complementar ao ver. A gente faz o ver e o escutar”, explica.
A freira ainda aponta as oportunidades que o Sínodo oferece. “A novidade que o Papa e o Sínodo traz é essa novidade da escuta. Escutar é transformador e exigente. Os nossos espaços precisam garantir um espaço de escuta de verdade. Por isso, o Sínodo nos oferece 3 oportunidades: encaminhar-nos estruturalmente para uma Igreja sinodal; tornamo-nos uma Igreja da escuta e tornarmo-nos uma Igreja da proximidade”, sintetiza.
Presidente e vice-presidentes do CPP dialogam com agentes de pastoral
Na manhã de ontem (13), no momento chamado “Diálogo Pastoral”, os agentes de pastoral tiveram também a oportunidade de dialogar com o Presidente do CPP e bispo da Prelazia de Tefé (AM), D. José Altevir e com o vice-presidente da pastoral e bispo da Diocese de Pesqueira (PE), D. José Luiz Salles, sobre o trabalho realizado pela pastoral nos estados. Os novos bispos ocupam o cargo desde março de 2023 e apenas agora tiveram a oportunidade de estarem com todos os agentes de pastoral de maneira presencial.
Os conflitos socioambientais enfrentados pelas comunidades pesqueiras acompanhadas pelo CPP, e que foram relatados pelos agentes, ajudaram a dar uma dimensão das ameaças ao modo de vida dos pescadores e pescadoras artesanais. Restrições de acesso aos territórios pesqueiros, ameaças de latifundiários, do agronegócio e das usinas eólicas, especulação imobiliária, turismo predatório, mineração e exploração de petróleo são apenas alguns dos vários conflitos relatados na reunião.
Após ouvir os relatos trazidos pelos agentes de pastoral, D. José Luiz falou da sua experiência ao visitar praias no estado do Rio Grande do Norte. “Fiquei assustado com o processo de privatização da praia”, descreveu o bispo corroborando o relato trazido pelos agentes. D. José ainda falou da importância de juntar forças para fazer o enfrentamento. “A gente vai em busca de juntar as forças para caminhar juntos. Porque a luta é contra um dragão. E o dragão tem muitas cabeças”, falou.
O bispo sugeriu ainda que sejam feitas parcerias. “De quais pastorais podemos nos aproximar para juntarmos forças? Precisamos juntar as nossas forças e abrir caminhos nesse tempo de crise”, sugeriu. O bispo ao ouvir sobre o jeito CPP de ser pastoral, propôs que isso seja mais conhecido. “Precisamos conhecer essa espiritualidade das águas e expressar essa pedagogia também”, defendeu.
Os bispos foram presenteados com uma caneca e uma camisa do CPP e se comprometeram a auxiliar no processo de sensibilização sobre os problemas enfrentados pelos pescadores e pescadoras artesanais.