O dia 25 de julho é o dia da Dia Internacional da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional da quilombola Tereza de Benguela e das Mulheres Negras. Em 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana, aconteceu o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e foi criada da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a definição do dia 25 de julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha.
Em 2014 este dia foi reconhecido no Brasil e também considerado como o dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra através da lei nº 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff.
Muitas mulheres negras ao longo da história da América Latina lideraram vários processos de resistência, especialmente no Brasil. São muitas as que lideraram a luta pela libertação do seu povo e de suas comunidades, pela defesa dos territórios e dos direitos. São importantes na nossa história e deixaram um legado que deve ser lembrado e valorizado. Podemos lembrar entre elas:
Luiza Mahin – mulher negra liberta que liderou na Bahia as revoltas negras, especialmente a revolta dos Negros Malês, onde era uma das principais articuladoras das reuniões políticas de organização do levante, passando bilhetinhos para os insurretos no seu tabuleiro de quitutes baianos. Mãe de Luiz Gama que depois vai liderar o processo de abolicionismo no Brasil;
Aqualtune - da Casa de Kinlaza é, segundo a tradição, a mãe de Ganga Zumba e avó materna de Zumbi dos Palmares. Ela seria uma princesa africana, filha de um rei do Congo. Aqualtune liderou, em 1665, uma força de dez mil homens na Batalha de Mbwila (cidade localizada na atual Angola), entre o Reino do Congo e Portugal, e foi capturada com a derrota congolesa.
Tereza de Benguela - foi uma líder quilombola, viveu durante o século 18. Com a morte do companheiro, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho e a população de negros e indígenas morta ou aprisionada;
Maria Filipa – recém descoberta pelo movimento de mulheres negras e historiadores negros, foi uma mulher negra marisqueira que liderou em Itaparica a luta pela independência da Bahia, tendo uma atuação central na articulação das resistências e lutas contra os portugueses que acabou por expulsá-los do território baiano e brasileiro;
Anita Luna – Mulher forte, pescadora de Pernambuco que liderou junto com outras a resistência à poluição e luta em defesa do território. Participou com outras pescadoras no I Seminário Nacional da Pesca Artesanal, realizado em Brasília em 1985 na Assembleia Constituinte levando a voz e a importância das mulheres pescadoras para a pesca e reivindicando a devida visibilidade e participação. Sua frase memorável mostra a sua força: “É melhor morrer de medo que de fome”.
Maria do Paraguaçu – Pescadora, Quilombola da comunidade Quilombola de São Francisco do Paraguaçu em Cachoeira-BA liderou a luta por libertação da comunidade que vivia dominada e coagida por treze fazendeiros. Era uma das principais expoentes que liderou a luta até 2008. Era admirada pela sua forte oratória e também destreza para o samba. Juntava força e cultura no processo de resistência e sua frase revelava a sua compreensão de mundo: “Estamos lutando pelos adultos e velhos, pelos jovens, pelas crianças e pelos que ainda estão por gerar e o mundo é uma bola e nele cabe todo mundo”
Podemos citar tantas outras que temos que seguir conhecendo as suas trajetórias e lições como: Lélia Gonzalez, Dandara, Carolina Maria de Jesus, Mariele Franco, entre tantas outras, pois como dizia a bem lembrada Luiza Bairros “Nossos passos vem de longe”.
A crise do Covid-19 coloca uma lente de aumento sobre as desigualdades sociais e raciais no Brasil – pobres, negros e mulheres tendem a sofrer mais com os impactos sociais. Em 2019 o aumento da violência contra as mulheres já foram assustadores e estão potencializados neste período. Um estudo apresentado pela ONU em abril de 2020 aponta que a violência contra as mulheres neste momento é uma pandemia-sombra e que neste cenário a estimativa é que os índices de violência contra as mulheres aumentem em torno de 20% em todo o mundo.
A violência doméstica contra as mulheres atinge mulheres de todas as classes, raças, religiões e sexualidades, mas aumenta mais entre as mulheres negras. É uma realidade assustadora, todos os anos milhares de mulheres são assassinadas, violentadas, agredidas, ameaçadas. Para conter essas violências é necessário denunciar e exigir do poder público políticas públicas de prevenção que sejam capazes de garantir a integridade física e psicológica das mulheres.
O Atlas da Violência 2019 apresentado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada traz dados da Violência Contra a Mulher. Os dados apresentados mostram que em 10 anos (2007 a 2017), tivemos em 2017 um maior número de mulheres negras vítimas de violência (66%) em comparação às mulheres brancas. Ainda nesse período a taxa de homicídio de mulheres negras cresceu 29,9%, enquanto que a taxa de homicídios de mulheres não negras cresceu em 4,5%. Entre o período de 2012 a 2017 a taxa de mulheres mortas dentro de casa cresceu em 17,1% e mortas fora de casa houve uma queda em 3,3%. E ainda sobre a segurança das mulheres em suas residências, o mapa apresenta que o número de mulheres mortas dentro de casa por armas de fogo cresceu 28,7% e fora de casa cresceu 6,2%. [1]
Em sua maioria as pescadoras são mulheres negras e toda a invisibilidade, desvalorização do seu trabalho, da sua contribuição econômica, política e cultural se relaciona com o racismo estrutural e institucional que assola a sociedade brasileira.
Estas mulheres negras das águas seguem com maestria enfrentando o racismo e o machismo de cada dia e liderando as lutas das comunidades na defesa do território, do modo de vida e de suas famílias sonhando com a transformação das suas condições de vida.
O CPP vem refletindo nos processos de formação e na sistematização de sua metodologia a importância de refletir sobre estas intersecções do racismo, com o sexismo, o machismo, e que essas ações se dão no cotidiano da vida das mulheres negras pescadoras e/ou agentes pastorais. Para garantir um futuro melhor e justo precisaremos enfrentar o racismo e o sexismo que justos determinam as desigualdades já relatada e coloca um contigente imenso de mulheres brasileiras na situação de vulnerabilidade.
“Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de ficarmos vivos”, nos convoca Conceição Evaristo.