Fogo atingiu área tradicional em Pedras de Maria da Cruz; comunidade suspeita de ação criminosa e denuncia insegurança e ameaças recorrentes de fazendeiros
Assessoria de Comunicação do CPP | Com informações e fotos da Comunidade Quilombola Pesqueira e Vazanteira de Caraíbas e do CPP – Regional Minas Gerais e Espírito Santo.
Na noite de quarta-feira (1º/10), um incêndio de grandes proporções destruiu parte do território da Comunidade Tradicional Quilombola, Pesqueira e Vazanteira de Caraíbas, em Pedras de Maria da Cruz (MG). Os moradores suspeitam que o fogo tenha sido criminoso, já que começou na parte alta do território, área sobre a qual a comunidade não detém posse efetiva desde a emissão do Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS), concedido pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU) em 2013. Atualmente, essa parte do território está sob posse de fazendeiros e de outros grupos de trabalhadores sem terra. O caso acende um alerta sobre a vulnerabilidade e a violência enfrentadas pelas comunidades tradicionais na região.
Comunidade mobilizada e socorro tardio
Assim que o incêndio começou, os moradores se organizaram em mutirões para tentar conter as chamas e acionaram o Corpo de Bombeiros, que informou já estar no local. No entanto, segundo os comunitários, a equipe atuava apenas na parte superior do território, sem alcançar as residências situadas à beira do rio. Durante toda a madrugada e o dia seguinte, os moradores e moradoras permaneceram em vigília, articulando apoios e cobrando a presença efetiva das autoridades.
Na manhã do dia 3, a comunidade acionou o Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), Regional Minas Gerais e Espírito Santo, que contatou o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH). O órgão, por sua vez, reforçou o pedido de socorro aos bombeiros. “O fogo se alastrava trazendo pavor às pessoas que ali residem”, relatam os comunitários. No mesmo dia, parte das chamas foi controlada com o auxílio da comunidade, mas os focos persistiram por dias, sendo monitorados até 5 de outubro.
Devastação ambiental e perdas para as famílias
Os danos causados são graves: plantações inteiras foram destruídas, incluindo cana, mexerica e umbuzeiros. Moradores relataram a morte de diversos animais silvestres, além da queima de canos de abastecimento de água. As crianças ficaram sem ir à escola devido à fumaça intensa, que também prejudicou a saúde do povo.
A comunidade lamenta que “anos serão necessários para reconstituir o prejuízo ambiental, social e econômico” causado pelo incêndio. “Estamos presenciando a morte de animais, plantas e outras espécies que temos como parte de nós”, afirmam.
Histórico de conflitos e ameaças
A comunidade de Caraíbas enfrenta conflitos fundiários desde a década de 1970, quando famílias foram expulsas por fazendeiros. Mesmo após conquistar, em 2013, o Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS), concedido pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU), as ameaças não cessaram.
“Os fazendeiros tentam nos expulsar novamente do nosso território tradicional”, denunciam os pescadores e pescadoras. O fogo, que teria começado justamente na área em disputa, reforça o clima de medo e insegurança vivido pelos cerca de 40 núcleos familiares que compõem a comunidade.
Apelo por proteção e ação do Estado
Os moradores afirmam que, diante da ausência do poder público, são obrigados a atuar como bombeiros e fiscais ambientais. “A gente que é tradicional faz no território o trabalho do bombeiro, apagando incêndio, e o trabalho da polícia ambiental, vigiando ações de terceiros. Essa luta é constante, mas precisamos da ajuda do Estado”, declara a comunidade.
O CPP e organizações de direitos humanos acompanham o caso e pedem investigação imediata das causas do incêndio e garantias de segurança para os moradores de Caraíbas.
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Com informações da Comunidade Quilombola Pesqueira e Vazanteira de Caraíbas e do CPP – Regional Minas Gerais e Espírito Santo