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Assembleia Nacional do CPP: Peregrinos da Esperança e o fortalecimento da pesca artesanal

Durante o primeiro dia do encontro, agentes de pastoral, pescadores e pescadoras artesanais refletiram sobre o Jubileu 2025, a conjuntura socioambiental e os desafios para as comunidades pesqueiras no Brasil

26-02-2025
Fonte: 

Henrique Cavalheiro - Assessoria de comunicação do CPP

Mais de 60 participantes de todos os regionais do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras, entre agentes de pastoral, assessores, pescadores e pescadoras convidadas, se reuniram nesta quarta-feira (26) para o primeiro dia da Assembleia Nacional de Avaliação e Planejamento do CPP. O encontro, realizado virtualmente, contou com a presença de Dom José Altevir, bispo da Prelazia de Tefé (AM) e presidente do CPP, e de Dom José Valdeci, bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora (CEPAST). Também contribuíram Alessandra Miranda, assessora da CEPAST, e Letícia Camargo, responsável pela incidência política do Painel Mar.

A mística de abertura foi conduzida pelos regionais Ceará e Piauí, trazendo um momento profundo de espiritualidade e reflexão coletiva. Inspirada na passagem bíblica de Romanos 5, 1-5, a celebração ressaltou a esperança que não decepciona e a fé que fortalece a caminhada dos povos das águas. Para enriquecer a meditação, foi lido o poema "Prece", de Fernando Pessoa, que convida à entrega total à missão, ao serviço ao próximo e à conexão com a criação. No espírito da pastoral, o momento reforçou o compromisso de caminhar lado a lado com pescadores e pescadoras, buscando justiça e dignidade, alimentando a esperança e reafirmando a fé na resistência e na transformação em prol dos territórios pesqueiros.

Peregrinos da Esperança: Caminhando com a Pesca Artesanal

O Ano Jubilar 2025, proclamado pelo Papa Francisco com o tema “Peregrinos da Esperança”, é um convite para a renovação da fé, do compromisso profético e da luta por justiça social. Durante a Assembleia, Dom José Altevir, destacou que esse Jubileu não se limita à Igreja no Brasil, mas se estende ao mundo inteiro, sendo um chamado urgente diante de tempos marcados por desigualdades e desesperança. “A esperança não nos decepciona, porque a esperança para nós é o próprio Deus”, afirmou o bispo, citando Romanos 5,5.

Para ele, a missão das pastorais sociais, e do CPP em especial, é vivenciar esse chamado do Jubileu por meio de uma espiritualidade encarnada, comprometida com a transformação social e a defesa dos mais vulneráveis. O bispo lembrou que a luta dos pescadores e pescadoras artesanais pela proteção de seus territórios e modos de vida é um testemunho vivo da fé que se traduz em ação concreta. “O Jubileu da Esperança não é apenas um tempo de celebração, mas um chamado à profecia: denunciar as injustiças e anunciar a possibilidade de um mundo melhor”, destacou. Ele reforçou que, nesse contexto, a justiça social, o cuidado com a Casa Comum e o direito dos povos e da natureza são elementos fundamentais dessa vivência jubilar.

O compromisso do CPP com os pescadores e pescadoras artesanais reflete esse espírito do Jubileu: manter viva a esperança, fortalecer a organização comunitária e garantir que os direitos dos povos das águas sejam respeitados. Para Dom Altevir, é essencial que a esperança se traduza em transformação social, e que os agentes pastorais vivam a fé de forma ativa, impulsionando a luta por dignidade, sustentabilidade e justiça para todas as comunidades tradicionais pesqueiras.

Após a fala de Dom José Altevir, a Assembleia seguiu com uma roda de conversa, na qual diversos participantes compartilharam suas percepções sobre como a mensagem de esperança do Jubileu deve se refletir na realidade da pesca artesanal no Brasil. Em meio a tantos projetos de destruição e morte que rondam as comunidades pesqueiras, promovendo medo, fome e violação de direitos, foi ressaltada a necessidade de fortalecer a organização e resistência dos povos das águas. As reflexões trazidas nesse espaço serão sistematizadas e iluminadas pela espiritualidade jubilar, servindo como base para orientar o planejamento e as ações do CPP ao longo do Ano Santo de 2025.

Comunidades Tradicionais: a resistência viva na defesa socioambiental

Análise de conjuntura e contexto socioambiental foi facilitada por Letícia Camargo, do Painel Mar, que destacou os desafios e oportunidades que se apresentam para a pesca artesanal no atual cenário político brasileiro. Letícia ressaltou que, apesar de algumas conquistas na pauta socioambiental nos últimos anos, a pesca artesanal e os povos tradicionais seguem sendo o principal alvo de políticas que favorecem grandes empreendimentos e o agronegócio, resultando na exclusão de seus territórios e na fragilização de seus direitos. "Os povos e comunidades tradicionais representam hoje a última resistência socioambiental do país", afirmou, reforçando a necessidade de fortalecimento da mobilização para garantir a defesa dos territórios pesqueiros e do meio ambiente.

A assessora também pontuou a urgência de acompanhar de perto as políticas que tramitam no Congresso Nacional, como a PEC 03, que ameaça a privatização das praias, e o PL das eólicas offshore, que foi aprovado sem consulta pública e com a inclusão de "jabutis fósseis". Além disso, alertou sobre a iminente exploração de petróleo na Foz do Amazonas, que pode representar um desastre ambiental de grande escala. “O bloco 59 é só a ponta do iceberg, são mais de 300 blocos para exploração na Margem Equatorial. Estamos falando de um projeto que pode mudar completamente a identidade da região e impactar diretamente dezenas de comunidades pesqueiras”, denunciou. Letícia ressaltou, ainda, a importância de participação ativa na COP30, que acontecerá no Brasil este ano, e da luta pela aprovação do PL 131/2020, que propõe o reconhecimento dos territórios pesqueiros no país.

O território é o lugar da esperança e da ação sociotransformadora

Por sua vez, Alessandra Miranda, assessora da CEPAST, trouxe um olhar sobre as dinâmicas globais e seus impactos diretos no Brasil, especialmente na atuação das pastorais sociais e das comunidades tradicionais. Alessandra enfatizou que as decisões tomadas em esferas internacionais repercutem diretamente nos territórios, inclusive nos pesqueiros, afetando políticas ambientais, direitos sociais e modelos de desenvolvimento. "O que acontece lá fora, se reflete aqui. As movimentações políticas e econômicas nos grandes centros de poder influenciam diretamente a vida das comunidades que lutam por seus direitos", destacou. Um dos exemplos mencionados foi a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, que representa um fortalecimento das políticas protecionistas e das medidas antiambientais, podendo impactar o Brasil no cenário internacional e no avanço da extrema direita no país.

A assessora também ressaltou que a luta das pastorais sociais precisa considerar essas dinâmicas geopolíticas, uma vez que o avanço das forças do mercado financeiro e do conservadorismo global representa uma ameaça direta às populações vulnerabilizadas. Ela alertou para o papel do imperialismo econômico e militar norte-americano, que fortalece a privatização de bens comuns e intensifica desigualdades, afetando diretamente os territórios dos povos do campo, das águas e das florestas. Alessandra reforçou o chamado para que a Igreja e as organizações populares assumam seu papel na defesa dos direitos dos povos tradicionais e na resistência contra modelos de exploração, enfatizando a importância de fortalecer as redes de solidariedade e a incidência política das comunidades pesqueiras. "O território é o lugar da esperança e da ação sociotransformadora. Como nos lembra o Papa Francisco, é dos territórios que vêm a criatividade e o poder de transformação", concluiu.

Luta é justa e de compromisso

Em uma breve participação no encontro, Dom José Valdeci, presidente da CEPAST, que também já foi presidente do CPP (2017-2023), expressou sua comunhão com a luta dos pescadores e pescadoras artesanais, reforçando o compromisso da Igreja na defesa da dignidade dos mais pobres. "Que este Ano Jubilar seja um tempo de esperançar, de continuar acreditando na libertação daqueles e daquelas que são oprimidos e oprimidas. A nossa luta é justa e de compromisso", afirmou o bispo, enviando sua saudação a todos e todas que, das águas aos territórios, seguem firmes na caminhada por vida digna e justiça.

A Assembleia Nacional do CPP segue nesta quinta-feira (27), no período da tarde, dando continuidade às reflexões e planejamentos para a caminhada da pastoral em 2025. Os debates e encaminhamentos buscarão consolidar as prioridades apontadas pelos participantes, reforçando a missão do CPP na defesa dos direitos dos povos das águas e na resistência frente às ameaças que cercam os territórios pesqueiros.

 

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