A iniciativa conecta jovens de comunidades pesqueiras para discutir mudanças climáticas, racismo ambiental e os impactos de grandes projetos no Sertão e no Litoral pernambucano
Texto: Henrique Cavalheiro - Comunicação CPP
Com o objetivo de promover a integração e fortalecer os jovens filhos de pescadores e pescadoras artesanais do litoral e sertão de Pernambuco, o Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP/PE), a Colônia de Pescadores Z-29 e o Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) - Regional Nordeste II realizaram, entre os dias 10 e 12 de janeiro, um intercâmbio no Sertão de Itaparica. Durante o evento, 22 jovens participaram de visitas a locais impactados por grandes projetos de infraestrutura, como o Canal da Transposição do Eixo Leste, no município de Floresta, os Parques de Energia Eólica e Solar, em Tacaratu, e a Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga, em Petrolândia.
Além das visitas, os jovens participaram de formações sobre os impactos desses projetos na fauna e flora locais, discutindo também as mudanças climáticas, o racismo ambiental e as ameaças aos territórios tradicionais, especialmente os pesqueiros. O intercâmbio foi realizado com apoio do Fundo Casa e focou no fortalecimento da comunicação e da mobilização juvenil.
Reflexões da Juventude Pesqueira
O intercâmbio foi descrito como uma oportunidade única para aprendizado e troca de experiências entre o Litoral e o Sertão. Para Expedito Daniel, jovem de Floresta - PE, o evento foi importante ao promover o compartilhamento de saberes e debates sobre os impactos socioambientais. “O intercâmbio foi de grande relevância em diversos aspectos, especialmente na troca de conhecimentos entre as regiões”, afirmou. Durante as visitas a locais como barragens e campos de energia eólica, solar e hidrelétrica, os participantes refletiram sobre as questões ambientais e energéticas que afetam ambas as regiões. “Foi, sem dúvida, um momento enriquecedor para todos os envolvidos, promovendo a reflexão sobre as questões ambientais e energéticas que impactam ambas as regiões.”, concluiu.
A importância do intercâmbio para fortalecer as ações locais foi um dos pontos ressaltados durante o encontro. Audelio Duarte, de Serrita, refletiu sobre os desafios enfrentados em sua região. “Nossa barragem está numa situação triste, e acho que o intercâmbio vai melhorar minha visão sobre o que fazer a respeito, já que no momento sou a pessoa que está representando a Colônia de Pescadores Z-31 da Barragem do Chapéu”, afirmou. Ele ressaltou o valor de estar ao lado de pessoas que enfrentaram desafios semelhantes e alcançaram vitórias significativas. “Estar ao lado de pessoas que passaram por situações parecidas e, após tantas lutas, conseguiram melhorias”, concluiu.
A troca de experiências foi destacada por Ana Clara, do município de Jatobá. Ela ressaltou a importância de conhecer a história de luta de outras comunidades pesqueiras. “Mesmo sendo uma atividade diferente em cada município, cada comunidade tem suas particularidades e seu modo de lutar, e unir forças para enfrentar os problemas, e isto nos torna mais fortes”, afirmou. A jovem também destacou a relevância das visitas às fontes de energia para compreender seus impactos. “Conhecer as fontes de energia foi importante para entender o que é bom e o que é prejudicial à vida da população, pois cada uma traz benefícios, mas também alguns prejuízos, desde a forma de implantação até a distribuição”, concluiu.
O impacto do encontro também foi sentido pela jovem Beatriz Gonçalves, de São José da Coroa Grande, que enfatizou o aprendizado ao conhecer o Sertão. “O intercâmbio foi eficiente para enxergar o outro lado da moeda, outra realidade, vermos a beleza e resistência do Sertão, o quanto ele é quente e aquecido por grandes histórias e rico numa beleza única”, destacou. Para ela, o momento foi marcado pela colaboração e pela união do grupo. “Foi um prazer participar dessa equipe onde todos são parceiros, compartilhamos vivências e, apesar das vulnerabilidades, nos unimos em uma só busca: aprender e partilhar conhecimento”, finalizou.
Impactos Socioambientais dos grandes empreendimentos
O secretário executivo do CPP - Regional Nordeste II, Severino dos Santos, destacou os impactos socioambientais provocados por grandes projetos no Sertão, como energia solar, eólica, hidrelétrica e o Canal da Transposição. “Proporcionar à juventude pesqueira em Pernambuco conhecer a realidade de vida das comunidades pesqueiras do Sertão e os impactos desses projetos é fundamental para entender os desafios enfrentados. A instalação de grandes obras compromete práticas tradicionais, afeta recursos hídricos e biodiversidade, além de gerar conflitos sociais pela falta de diálogo com as comunidades”, destacou Severino.
Ele também enfatizou o impacto na pesca artesanal. “O barramento dos rios afeta diretamente a migração e reprodução dos peixes, comprometendo a pesca e a agricultura familiar. Essas mudanças desequilibram as práticas tradicionais e agravam os desafios socioeconômicos na região catingueira”, finalizou.
Próximos Passos
A experiência no Sertão foi apenas o início de uma jornada que continuará em maio, quando o próximo intercâmbio será realizado no litoral, entre os dias 22 e 25. A iniciativa promete ampliar ainda mais o diálogo entre jovens, fortalecendo o trabalho em rede e a resistência das comunidades pesqueiras diante dos impactos ambientais e sociais.
A participação ativa da juventude destaca sua força como agentes de transformação e continuadores das lutas das comunidades tradicionais pesqueiras. Esses e essas jovens trazem ânimo e renovam a esperança nas comunidades, contribuindo com novas perspectivas para o futuro. Ao unirem litoral e sertão, eles fortalecem as ações em defesa dos territórios pesqueiros e impulsionam a construção de uma justiça socioambiental que preserva o modo de vida e os direitos da pesca artesanal.