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Comunicação para resistir e encantar: Juventudes de comunidades tradicionais refletem sobre o uso das redes sociais

Jovens de comunidades pesqueiras e quilombolas, reunidos em Salvador/BA, debatem o papel da comunicação digital para enfrentar ameaças ambientais, valorizar seus territórios e ampliar a visibilidade de suas culturas

28-09-2024
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Texto: Henrique Cavalheiro - assessoria de comunicação do CPP Nacional / Fotos: Ingrid Campos / CPP

No segundo dia do ‘Encontro sobre Mudanças Climáticas, Racismo Ambiental e Comunicação com a Juventude’, realizado em Salvador / BA, neste sábado (28), o foco foi a comunicação. Jovens de comunidades tradicionais, sobretudo pesqueira e quilombola, participaram de uma formação voltada para explorar as oportunidades e os riscos das redes sociais. O objetivo foi discutir como esses meios podem ser ferramentas poderosas tanto para amplificar denúncias sobre as injustiças socioambientais quanto para apresentar as belezas e a riqueza cultural dos seus modos de vida e tradições.

Com a facilitação de Jonaire Mendonça, da assessoria de comunicação do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras, regional Bahia e Sergipe, e integrante da Criôla Criô, ficou evidente a importância de incluir os jovens das comunidades tradicionais no diálogo sobre comunicação e redes sociais. Para ela, o evento funciona mais como um intercâmbio do que apenas um encontro, pois a juventude desses territórios tem muito a ensinar. "Não dá pra falar sobre eles sem trazê-los pro diálogo. Acho que é importante essa inserção, essa troca, esse intercâmbio", afirmou Jonaire, destacando que cada território traz saberes e modos de fazer únicos, o que torna a troca ainda mais rica.

Jonaire também enfatizou o papel fundamental das redes sociais na visibilização das potencialidades dos territórios tradicionais. Segundo ela, enquanto as ameaças e os conflitos enfrentados por essas comunidades, como o racismo ambiental, são frequentemente debatidos, é essencial que os jovens usem as redes para mostrar ao mundo as riquezas culturais, criativas e identitárias que seus territórios produzem. "A ideia desse encontro é fomentar isso neles... de que forma você pode dar visibilidade às coisas boas e às potencialidades que seu território tem produzido", explicou, reforçando que os jovens funcionam como "vetores multiplicadores" dessas riquezas.

Comunicação como amplificação das vozes das comunidades

Já para Dani Souza, também da ASCOM CPP/BA, os jovens das comunidades tradicionais já possuem familiaridade com as redes sociais, mas o desafio está em potencializar o uso dessas ferramentas. De acordo com Dani, a ideia é ajudar os jovens a "pensar na potencialização desse fazer. De que forma eu posso conhecer melhor as ferramentas... desses aplicativos, dessas plataformas e a partir daí criar estratég. ias de fortalecer uma luta dentro do território." Para ela, o papel das redes sociais é ampliar a voz dessas comunidades e dar visibilidade às ameaças e violências que elas enfrentam diariamente.

Dani também sublinhou o papel que os jovens podem desempenhar como porta-vozes de suas comunidades. Ela observou que, historicamente, os mais velhos resistiram e permaneceram nos territórios, mas que agora os jovens, por estarem mais conectados às redes, podem assumir essa responsabilidade de denunciar as ameaças e buscar apoio externo. "A gente está trabalhando para que as pessoas saibam o que está acontecendo, que instituições possam apoiar e buscar soluções", afirmou Dani, reforçando a importância de transformar as redes em espaços de resistência e debate público.

Comunicação como ferramenta para impulsionar a geração de renda nas comunidades

Para o jovem da comunidade ribeirinha de Pedreiras, no município de Pilão Arcado (BA), Eduardo Mariano, este momento trouxe uma perspectiva prática sobre o impacto da comunicação digital em sua realidade. Para ele, o uso das redes sociais pode empoderar as comunidades tradicionais, especialmente no que diz respeito à valorização dos produtos locais. "Na minha comunidade, eu vejo que, se os jovens se interessassem em divulgar mais a questão do peixe, para vender, para aumentar a renda, mostrar que o peixe precisa ser mais valorizado... isso poderia impactar diretamente na vida das famílias", explicou Eduardo, destacando a importância de criar conteúdos digitais que promovam a cultura e a economia local.

Durante o encontro, Eduardo aprendeu estratégias para potencializar a comunicação, utilizando o exemplo de como os jovens podem explorar a internet para promover o modo de vida de suas comunidades. Ele mencionou o interesse em divulgar a culinária da pesca, como a moqueca e até produtos inovadores, como a linguiça e o hambúrguer de peixe, que são produzidos em sua região. "Acredito que, se a gente pegar essas práticas e começar a divulgar, vai valorizar mais o produto de lá", afirmou Eduardo, mostrando o poder que a comunicação digital pode ter na geração de renda e no fortalecimento das tradições locais.

O encontro, que se estende até domingo (29) e é promovido pelo CPP, tem sido um espaço de construção para a juventude de comunidades pesqueiras e quilombolas. As discussões abordaram temas como racismo ambiental, mudanças climáticas e comunicação, reforçando o intercâmbio entre diferentes comunidades de diversos estados. Esse momento de troca de experiências tem avivado as potencialidades dos jovens, destacando a importância de suas vozes e suas ações na preservação e fortalecimento de seus territórios tradicionais.