Seculo Diário
Por Fernanda Couzemenco
Uma situação degradante, de muita vulnerabilidade e desrespeito profundo, com a pesca praticamente destruída e a ausência de perspectiva de futuro. Essa é uma síntese do cenário testemunhado por 20 agentes de Pastoral que percorreram a bacia do Rio Doce entre os dias 17 e 20 de junho, numa missão que irá culminar no Seminário sobre os Impactos do Crime da Samarco às Comunidades Pesqueiras.
O evento acontece na próxima quinta-feira (22) em Povoação, Linhares, no norte do Estado, e reunirá pescadores de toda a Bacia do Rio Doce impactada pelo rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco/Vale-BHP, em novembro de 2015. A organização é do Comitê da Pastoral dos Pescadores (CPP), entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), presente em dez estados brasileiros, inclusive o Espírito Santo.
Na programação, haverá depoimentos de pescadores de várias localidades impactadas e de membros de organizações e movimentos sociais que atuam na região do desastre; apresentação do diagnóstico elaborado pelos agentes de Pastoral; e a construção de estratégias conjuntas. “A intenção da Pastoral é ter uma visão de conjunto”, ressalta Maria José Pacheco, uma das coordenadoras do evento.
Doenças de pele, impossibilidade de pescar, depressão, não recebimento de indenizações, entre outros tantos problemas foram relatados aos agentes durante a missão.
Maria José destaca ainda o desrespeito com que a empresa tem tratado a questão, distribuindo apenas cartões de auxílio emergencial, e não para todos os impactados, num valor muito aquém da renda obtida por pescadores antes do crime. O resultado é, além da precariedade financeira das comunidades, muitos casos graves de alcoolismo e depressão, que atingem não só os pescadores, mas também lavadeiras, agricultores e todos os moradores.
“A empresa também tem várias manobras de fazer negociação, sem segurança para os atingidos, dizendo que a pessoa tem que assinar documentos, sem saber exatamente do que se trata, e não pode falar com outras pessoas, não pode entrar na Justiça”, relata a agente pastoral. “Processos dos mais variados e esdrúxulos possível”, completa.
“E o pior de tudo é que não se tem uma discussão sobre a revitalização do rio, qual a perspectiva pra essas pessoas”, critica a coordenadora do evento. “Todo um povo que tem um modo de vida baseado na água e que está sendo inviabilizado. E não é fácil manejá-las para outras atividades, porque não é só um posto de trabalho, é um jeito de viver. Esse modo de vida tem que ser resgatado”, cobra.