Brasil de Fato, Brasília - DF | Por Erick Gimenes. Fotos: Andressa Zumpano.
A grande indústria está maquiando e oferecendo à venda peixes contaminados pelo óleo vazado no Nordeste, segundo pescadores artesanais da região.
“A pesca industrial atrapalha porque eles fazem propaganda de que o produto está bom para consumo, mas todo mundo sabe que não está. Eles vencem com o interesse maior do comércio, do capital, de dizer que tá tudo bem, mas na verdade não tá tudo bem”, relata Raimundo Siri, da comunidade Cova da Onça, no baixo sul da Bahia.
Ele afirma que os industriais têm usado propagandas enganosas para conseguir vender o produto infectado pelo desastre ambiental. “A estratégia deles é de usar as redes sociais, as mídias, de certa forma, para fazer propaganda, usando os órgãos ambientais para fazer análise de água, análise de peixe, análise de mariscos, para dizer que tá tudo bem”.
O gosto da contaminação é indisfarçável, conta a pescadora e marisqueira Gilsa Maria Silva, de Aracaju. As vendas, em razão disso, estão inviabilizadas.
“Eles [os compradores] falam assim: eu sinto muito, mas eu não vou ficar com seu produto, não. Por causa desse derramamento de petróleo, que [o pescado] tá com gosto de petróleo. Nós não vamos dizer que não tá? Nós ficamos caladas, porque nós não podemos dizer que não tá. Porque nós sabemos que esse petróleo veio para destruir mesmo, para matar mesmo”.
Gilsa diz que, por causa da crise nas vendas, a fome chegou às comunidades desassistidas. “Na minha comunidade já tem mãe, família, que está passando necessidade. Tem delas que manda o filho para a escola para se alimentar bem lá, porque quando chega em casa não tem outra alimentação. Isso é triste”, lastima.
O pescador Laílson Evangelista de Souza, do litoral pernambucano, diz estar pessimista com a situação. “O pior está por vir”, declara. Ele conta que não tem outra opção além de comer o peixe pescado entre as manchas de óleo.
“Quer queira ou quer não, eu mesmo estou comendo peixe. Eu vou comer o quê? Eu tenho que comer o peixe. Eu pego meu barco, vou pescar, não vendo. Pego uma quantia certa e volto”, narra. “Tem que comer. Pelo menos ainda não morri”, completa.
Reunião com a PGR
Lideranças dos pescadores artesanais se reuniram nesta sexta-feira (22) com representantes do Ministério Público Federal (MPF), na Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
Durante mais de 6 horas, elas relataram a situação nas comunidades e cobraram ações que possam reduzir os danos causados pelo vazamento do óleo.
O MPF informou que vai analisar as demandas, mas ressaltou que já tem feito diversos trabalhos nos estados atingidos pelo crime ambiental.
Edição: Rodrigo Chagas