Publicado no Brasil de Fato | Texto: Luciana Console | Foto: Thomas Bauer
Nascido no final dos anos 1960, em plena ditadura militar brasileira, o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) vem, desde então, realizando um trabalho de fortalecimento de organizações locais de pescadores artesanais, com intuito de diminuir a exploração e invisibilidade destes trabalhadores. Em 2019, os 50 anos de existência foram comemorados com a realização de um Congresso no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde cerca de 500 pessoas do Brasil inteiro se reuniram para fazer o balanço da Pastoral e discutir os próximos desafios.
Para Ormezita Barbosa, Secretária Executiva Nacional do CPP, o evento foi um momento histórico para a Pastoral. “A gente saiu do Congresso feliz, animado e fortalecido para esse momento em que vivemos, onde o ódio quer dar as regras. E aqui nós afirmamos que ele não tem a última palavra. Saímos muito esperançosos, confiantes de que é possível construir novos processos”, celebra Barbosa.
Realizado entre 20 e 23 de maio, o Congresso foi estruturado em três eixos. O primeiro dia resgatou a memória e a história da Pastoral desde a sua criação, quando os frades franciscanos fizeram visitas em comunidades nos arredores de Olinda, Pernambuco, e começaram o processo de organização da entidade. O segundo dia foi dedicado à reflexão e afirmação da identidade da Igreja comprometida com a luta dos pobres. Outras religiões também foram chamadas para neste momento, ressaltando a importância da diversidade e tolerância.
Já no terceiro e último momento foram pensados os desafios e perspectivas para o futuro, principalmente no atual contexto e retrocessos sociais com o governo de Jair Bolsonaro. Barbosa conta que o encontro foi importante para afirmar que o CPP precisa continuar com a denúncia da realidade das comunidades pesqueiras mas, para além disso, construir com o povo e à partir do povo as saídas para o atual momento.
“Nossa afirmação no Congresso é que a gente precisa fortalecer, com a articulação com as pastorais irmãs, a luta dos povos e comunidades tradicionais. Animar os pescadores para que eles também possam fortalecer as articulações de âmbito local, nacional e internacional”.
Barbosa relata que um dos grandes problemas enfrentados pelos pescadores, em sua imensa maioria na região Amazônica, é a luta pela defesa do território. As áreas das comunidades estão sendo tomadas e invadidas por grandes empreendimentos, que vão desde a pesca industrial até a mineração e construção de hidrelétricas.
Neste sentido, Barbosa explica a importância da realização do Congresso também como um diálogo com o Sínodo da Amazônia, encontro de bispos da Igreja Católica que ocorrerá em outubro, no Vaticano. O Sínodo é uma tradicional reunião em torno de um tema urgente para a Igreja com intuito de promover o diálogo com o povo. Segundo ela, além da comemoração de 50 anos da Pastoral, o Congresso foi um convite para a Igreja olhar para a Amazônia e se comprometer com a realidade dos povos e com o combate às ameaças dos últimos tempos.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira