Comunidades pesqueiras sofrem com as consequências após derramamento de petróleo em 2019, a pandemia do novo Coronavírus e, agora, as cheias do rio.
Assessoria de Comunicação do CPP | Texto: Henrique Cavalheiro - Fotos: Francisca Carneiro e Ronaldo Gonzaga
Comunidades de pesca artesanal, nos municípios de Fortim e Aracati no estado do Ceará, estão sendo afetadas pelas fortes chuvas no início de abril de 2023, interrompendo a pesca na região e impactando na morte de várias espécies. A situação se agrava devido aos impactos remanescentes do crime do derramamento de petróleo ocorrido em 2019, que afetou a renda das famílias no litoral nordestino. A pandemia do novo coronavírus, que fechou feiras e mercados, também colaborou para a intensificação dos impactos. Agora, quando os pescadores e pescadoras começaram a retomar a pescaria, o Rio Jaguaribe foi afetado pelas cheias causadas pelas chuvas, o que tem gerado ainda mais insegurança alimentar e econômica para as comunidades pesqueiras.
Desde o crime ambiental, a pesca artesanal foi severamente afetada e nenhum auxílio ou reparação alcançou a comunidade. Com a pandemia, a venda dos peixes e mariscos foi comprometida pelo fechamento dos pontos de venda em consequência do lockdown. Quando as famílias retomavam suas atividades, numa atitude de resistência, a pescaria foi, mais uma vez, ameaçada pelo excesso de água no rio, o que ocasionou deslizamentos e enxurradas, que arrastaram muita lama e vegetações aquáticas.
Com a falta de reparação, políticas públicas de proteção e do auxílio do governo, os pescadores artesanais e, sobretudo, as marisqueiras enfrentam mais uma grave crise. As famílias temem pelo futuro e pela sobrevivência diante dos inúmeros desafios que enfrentam, sem perspectivas de mudança em curto prazo. Para os pescadores e pescadoras artesanais, é preciso que as autoridades tomem medidas emergenciais.
A marisqueira Francisca Maria de Albuquerque, relembra os momentos de dificuldades enfrentados pela comunidade. “Passamos por dois períodos difíceis, que foi a pandemia e o derramamento do óleo. Nós da comunidade do Jardim, trabalhamos com marisco e estamos sofrendo. A água do rio está muito alta, está havendo muita sujeira. As marisqueiras e pescadores não tão tendo como sustentar suas famílias, é dali que a gente tira a nossa renda”, explica Francisca.
Segundo a marisqueira, é causa de tristeza para a comunidade olhar um rio tão rico e tudo que está acontecendo. “O nosso Rio Jaguaribe é a mãe rica, que nos fortalece e nos alimenta. Agora é sinal de dor relembrar tudo que a gente tirava do rio. Não temos a quem pedir socorro. Então, nós ficamos como? Não sabemos até quando as águas vão subir com essas chuvas”, lamenta.
“Só Deus mesmo para nos ajudar e alguém que queira olhar para nós, que puder nos ajudar, estamos aqui esperando”, completa Francisca.
Sem apoio do governo
Para o pescador artesanal, Ronaldo Gonzaga, a chegada deste grande fluxo de chuvas na região vai dificultar, ainda mais, a vida da comunidade pesqueira, pois a principal fonte de renda das famílias locais vem do marisco. “Várias espécies de peixe que tem no Rio Jaguaribe, nosso estuário, não vão suportar tanta água doce, muitos morrem ou fogem pro mar. Além do marisco que boa parte vai morrer”, pontua. “Isso aí é um grande dano para nós e para a renda na região, pois várias famílias vão sofrer. É incalculável o dano que essa enchente vai causar nas comunidades”, afirma Ronaldo.
O pescador também recorda o histórico de lutas que estas famílias já travam desde 2019. “A gente já vem sofrendo desde o derramamento do petróleo e não temos nenhum apoio do governo. 90% dos pescadores não receberam nenhuma quantia, nem as marisqueiras”, argumenta.
“Essas famílias vão sobreviver de que? Muitas já estão preocupadas. A tendência é de mais água vir, e com isso, menos chance de os mariscos sobreviverem. A gente fica na expectativa de que os órgãos públicos vejam isso e nos ajudem de alguma maneira. Vamos precisar porque ficaremos sem a nossa principal fonte de renda e alimento”, finaliza Gonzaga.
Insegurança alimentar
O Conselho Pastoral dos Pescadores - CPP observa e acompanha as dificuldades das famílias das comunidades, agravadas agora pela cheia do Rio Jaguaribe. Para o CPP, é fundamental que o governo e as autoridades locais ofereçam apoio e políticas públicas para reparar os danos causados e proteger as famílias tradicionais pesqueiras contra a insegurança alimentar e econômica.
“As famílias pesqueiras que moram na região, sofrem desde o grande impacto do derramamento do petróleo, e nesse período com o aumento das águas do rio. Elas precisam de uma política pública de atenção para que quando chegar esse período das chuvas, as famílias pesqueiras não venham a ficar em situação de vulnerabilidade socioeconômica, socioambiental e com risco de insegurança alimentar”, alerta Camila Batista, secretária executiva do CPP – Regional CE/PI.